Categoria Poemas

HOMENAGEM AO DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE

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HOMENAGEM AO DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Vamos refletir e observar
Como a cidade pode se estruturar
Com o meio ambiente limpo e sadio
Podemos ainda salvar o rio.

Com uma educação ambiental
Funcionando de verdade
Tem-se alimento com qualidade
Para atender toda a sociedade.

Educação e consumo sustentável
Preparam melhor a grande cidade
Para lidar com a sociabilidade
Com políticas públicas de responsabilidade.

A energia gerada na comunidade
Para servir a toda a popularidade
Que mora no campo e na cidade
Para servir com mais liberdade.

A criança ao estudar
Garante um bom futuro plantar
Onde o jovem possa trabalhar
Para o seu país transformar.

A Educação Ambiental,
Praticada na fazenda ou no quintal,
Serve para alimentar o homem e o animal
Desde o modo primitivo ao modelo industrial.

Antônio Santan

 

Antonio Santana é também Coordenador do Mov. Café com Poemas em Condeúba/BA

Antônio da Cruz Santana nasceu na cidade de Saubara, na Região do Recôncavo Baiano, em 9 de abril de 1971. Em sua cidade natal, fez o curso primário, na Escola Estadual Professor Caio Moura, e o ginásio, no Centro Educacional Cenecista de Saubara.

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“Faça que seu próprio medo tenha medo de você” – Bráulio Bessa

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Que o medo de chorar
não lhe impeça de sorrir.
Que o medo de não chegar
não lhe impeça de seguir.
Que o medo de falhar
não lhe faça desistir.

Que o medo do que é real
não lhe impeça de sonhar.
Que o medo da derrota
não lhe impeça de lutar.
E que o medo do mal
não lhe impeça de amar.

Que o medo de cair
não lhe impeça de voar.
Que o medo das feridas
não lhe impeça de curar.
E que o medo do toque
não lhe impeça de abraçar.

Que o medo dos tropeços
não lhe impeça de correr.
Que o medo de errar
não lhe impeça de aprender.
E que o medo da vida
não lhe impeça de viver.

O medo pode ser bom
serve pra nos alertar,
tem função de proteger,
mas pode nos ensinar
que às vezes até o medo
vem pra nos encorajar…

Repare,

Se há medo de perder,
é sinal para cuidar.
Se há medo de desistir,
é sinal para tentar.
Se há medo de ir embora,
é sinal para ficar.

Se há medo da maldade,
é sinal para amar.
Se há medo do silêncio,
é sinal para falar.
Se o silêncio insistir,
é sinal para cantar.

Se há medo do escuro,
é sinal para iluminar.
Se há medo de um erro,
é sinal para caprichar.
Se há medo, meu amigo,
é sinal para enfrentar.

Toda coragem precisa
de um medo pra existir.
Uma estranha dependência
complicada de sentir.
A coragem de levantar
vem do medo de cair.

Use sempre a coragem
para se fortalecer.
E quando o medo surgir
não precisa se esconder.
Faça que seu próprio medo
tenha medo de você.

 

Bráulio Bessa, Poesia que transforma.

 

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Ela ama ser mãe, mas ama também ser mulher

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Ela gosta sim de flores, gosta de carinho, de um mimo; de ter um dia só para ela, de se sentir importante, amada… 
Gosta das mensagens que recebe no Whatsapp. Dos posts lindos que encontra no Facebook. Dos poemas e homenagens feitos pelos poetas. Tudo isso é bom. Mas o que ela mais valoriza de fato são as atitudes diárias. O respeito por parte de quem lhe diz palavras bonitas em seu aniversário ou em datas como agora no dia das mães. Ela quer ser valorizada como mulher. Como alguém que também precisa ser percebida, admirada, levada para certos lugares. Quer ter o direito de não se sentir forte o tempo todo, sair um pouco da realidade. Da condição inevitável de ser a alavanca, coluna principal do mundo. Ela não aguenta mais esse rótulo de heroína. De super mulher. De ter de ser forte em tudo e com todos. Ela só quer alguém para dividir o peso de tudo aquilo que carrega. Quer brincar com os filhos até cansar. Sorrir escandalosamente feliz ao lado de alguém, sem essas preocupações de tudo.
Ela quer ter paz, momentos de diversão com as amigas. Chorar, às vezes, quando preciso e ser resgatada, acalentada, compreendida…

É claro que ela ama ser mãe, mas ama também ser mulher.
E ambas as condições se completam em uma só vontade: de ser apenas ela mesma, como mãe e como mulher. Sem rótulos e sem paradoxos.

 

*Texto escrito por Leandro Flores. É livre a reprodução, porém, é obrigatório citar as devidas referências de autoria e fonte.

 

Imagem: Anastasia Gepp/Pixabay

 

Autor

Leandro Flores é fundador e produtor de todos os Projetos ligados ao Café com Poemas até aqui.

 

Jornalista, Sertanista, Comendador, Poeta, Editor de Livros e Revistas e Designer Gráfico. Leandro é autor dos livros “Sorriso de Pedra – A outra face de um Poeta” e “Portfólio: Traços e Conceitos”.

É membro-fundador da Academia de Letras do Sertão Cultivista, membro da CAPPAZ – Confraria Artistas e Poetas pela Paz, além de outras instituições Acadêmicas pelo país. Também é Coordenador e Idealizador do Movimento Cultivista Brasileiro e do Projeto Cartas e Depoimentos. Já fez participações em dezenas de antologias poéticas, além de ORGANIZAR e AUXILIAR outras publicações. Leia mais…

 

 

Ela é uma moça de poses delicadas, sorrisos discretos e olhar misterioso

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“Ela é uma moça de poses delicadas,

sorrisos discretos e olhar misterioso.
Ela tem cara de menina mimada,

um quê de esquisitice, uma sensibilidade de flor,

um jeito encantado de ser,
um toque de intuição e um tom de doçura.
Ela reflete lilás, um brilho de estrela, uma inquietude,
uma solidão de artista e um ar sensato de cientista.
Ela é intensa e tem mania de sentir por completo,
de amar por completo e de ser por completo.
Dentro dela tem um coração bobo,
que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez.
Ela tem aquele gosto doce de menina romântica
e aquele gosto ácido de mulher moderna.”

—  Caio Fernando Abreu

 

Imagem de Uwe Kern por Pixabay

Meu pé de Ipê – José Veríssimo

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Um pé, de pé, ainda em pé
É um pé amarelo, outro roxo
É um pé rosa, outro branco
Todos são a gosto, outros setembro
Meu pé de Ipê

É um cheiro, laço, um abraço
O elo do amarelo, o gosto do roxo
O poema do branco, todos coloridos
O amarelo do amigo
Meu pé de Ipê

É um renascer do ser nascer
Montanha amontoada no meu quintal
Flor temporona no meu olhar
Um beijo pra arrebentar a semente
E fazer florir, sem medo o doce desejo
Meu pé de Ipê

É na praça, de graça
No teatro, no texto
No poema, na caneta
Na boca, no beijo
Na barriga, no elo
No amarelo, texto e contexto
Meu pé de ipê

José Veríssimo

Fotos: internet

“Uma História”, poema de Casimiro de Abreu

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A brisa dizia à rosa:
– “Dá, formosa,
Dá-me, linda, o teu amor;
Deixa eu dormir no teu seio
Sem receio,
Sem receio minha flor!

Da tarde virei da selva
Sobre a relva
Os meus suspiros te dar;
E de noite na corrente
Mansamente
Mansamente te embalar!” –

E a rosa dizia à brisa:
– “Não precisa
Meu seio dos beijos teus;
Não te adoro… és inconstante…
Outro amante,
Outro amante aos sonhos meus!

Tu passas de noite e dia
Sem poesia
A repetir-me os teus ais;
Não te adoro… quero o Norte
Que é mais forte
Que é mais forte e eu amo mais!” –

No outro dia a pobre rosa
Tão vaidosa
No hastil se debruçou;
Pobre dela! – Teve a morte
Porque o Norte
Porque o Norte a desfolhou!…

 

Saiba quem foi Casimiro de Abreu

Consciência Negra

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Consciência de raça 
Consciência de cor 
Consciência de seu papel 
Consciência de seu valor 

Consciência libertária 
Consciência que faz acontecer
Consciência Igualitária
Consciência para se viver

Consciência das diversidades e crenças
Consciência de que o mundo tem várias cores
Consciência de que é preciso mais respeito
Consciência de alguns valores

Consciência de que não há diferença
Consciência de que somos todos iguais
Consciência de que preconceito é doença
Consciência de que o amor vale mais

Um poema de Leandro Flores

Obs. Não conseguimos identificar a autoria da imagem

 


Leandro Flores é fundador e produtor de todos os Projetos ligados ao Café com Poemas.

Jornalista, Sertanista, Comendador, Poeta, Editor de Livros e Revistas e Designer Gráfico. Leandro é autor dos livros “Sorriso de Pedra – A outra face de um Poeta” e “Portfólio: Traços e Conceitos”.

É membro-fundador da Academia de Letras do Sertão Cultivista, membro da CAPPAZ – Confraria Artistas e Poetas pela Paz, além de outras instituições Acadêmicas pelo país. Também é Coordenador e Idealizador do Movimento Cultivista Brasileiro e do Projeto Cartas e Depoimentos. Já fez participações em dezenas de antologias poéticas, além de ORGANIZAR e AUXILIAR outras publicações. Leia mais…

Sodade do meu pedacim de chão

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Tem tempo que larguei minha rocinha
e vim pará neste lugá
aqui trabaio noite e dia
num paro nem pra discansá

deixei minino, muié, gado, roçado
priquito e tudo quanto há
a seca foi bitela
a prantação num chegô nem a brotá

vô picá é a mula daqui
num tem como ficá mair não
a sodade já tá ardendo o peito
virô até judiação

vô é pros braços da minha véia
vô dengá os meus fiím
vô vortá pra minha terra
sê filiz do meu jeitim

vô pulá na inchorrada
quando a chuva aparicê
vô chamá de macambira
quem dizê que eu tô perê

vô butá a minha roça
tombá, prantá e esperá crescê
como fiz nos zotros zanos
sem ninguém pra esmurecê

a minha terra é trabiceiro
onde eu faço o meu labô
bom dimais mexê cum terra
vida lá é bela como uma frô

a tarde o sóu se ispriguiça
e a noite toma o seu lugá
vagalume é bicho sorto
passa logo a lumiá

quando é noite de lua cheia
aí que a coisa fica boa
vô pro terreiro cus meninos e a muié
ouvi modinha e ficá à toa…

é muito bom o meu sertão
é por isso que vô me picá
aqui num tem sossego não
só o peso do patuá

cidade grande tem imprego
gente fina e agitação
mas prum matuto, feito eu
mió mermo é seu pedacim de chão.

Leandro Flores
03/09/2015

Créditos da foto: Autor desconhecido

https://www.youtube.com/watch?v=OSFo73KZcUU
Composição: Elomar Figueira Mello
Quarta faixa do disco de 1978,
Na Quadrada das Águas Perdidas.

Leandro Flores é fundador e produtor de todos os Projetos ligados ao Café com Poemas.

Jornalista, Sertanista, Comendador, Poeta, Editor de Livros e Revistas e Designer Gráfico. Leandro é autor dos livros “Sorriso de Pedra – A outra face de um Poeta” e “Portfólio: Traços e Conceitos”.

É membro-fundador da Academia de Letras do Sertão Cultivista, membro da CAPPAZ – Confraria Artistas e Poetas pela Paz, além de outras instituições Acadêmicas pelo país. Também é Coordenador e Idealizador do Movimento Cultivista Brasileiro e do Projeto Cartas e Depoimentos. Já fez participações em dezenas de antologias poéticas, além de ORGANIZAR e AUXILIAR outras publicações. Leia mais…

“Eles passarão… eu passarinho”, conheça o significado do ‘Poeminho do Contra’, de Mario Quintana

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Embora seja formada por apenas quatro versos, Poeminho do Contra é uma das composições mais populares de Mario Quintana.

É também um dos seus poemas que mais se destaca pela mensagem que transmite ao leitor. Os versos “Eles passarão…/ Eu passarinho” se tornaram imensamente famosos e queridos entre o público brasileiro.

Quer entender melhor o poema e a sua complexidade? Confira a nossa análise.

Poeminho do Contra

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!

Análise e interpretação do Poeminho do Contra

A composição assume uma forma simples e popular, a quadra, rimando o primeiro verso com o terceiro e o segundo com o quarto (A-B-A-B). O registro de linguagem é também bastante acessível e próximo da oralidade.

Versos 1 e 2

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho

Começando pelo próprio título, o poema se declara “do contra”, afirmando assim que desafia ou resiste a alguma coisa.

Logo no primeiro verso encontramos uma explicação: o que incomoda eu-lírico são aqueles que estão “atravancando” o seu caminho.

Se estabelece, assim, uma dinâmica de “eu versus eles”. O sujeito é apenas um e enfrenta, sozinho, uma espécie de inimigo coletivo (“todos esses que aí estão”).

Podemos assumir que o eu-lírico se refere a seus inimigos, mas pode também estar mencionando os problemas e obstáculos que têm surgido na sua vida.

Versos 3 e 4

Eles passarão…
Eu passarinho!

Os dois versos finais são os mais conhecidos do poema, estabelecendo uma espécie de lema que podemos adotar para a nossa vida. Trata-se de um jogo de palavras entre o grau aumentativo de “pássaro” e o verbo “passar” conjugado no futuro.

O fato de serem palavras homônimas (que se dizem e escrevem da mesma forma) confere uma dupla interpretação para essa passagem.

Por um lado, podemos pensar que se trata do substantivo “pássaro” em graus diferentes. Assim, o sujeito poético estaria indicando que, na sua visão, os obstáculos são maiores do que ele, que é apenas um “passarinho”.

Por outro lado, “passarão” pode ser lido como uma conjugação futura do verbo “passar” (terceira pessoa do plural). Isso indicaria que todos os seus problemas são efêmeros e, eventualmente, irão se dissipar.

Deste modo, o sujeito pode ser comparado a um “passarinho”, sinônimo de liberdade e de leveza.

Significado do Poeminho do Contra

Poeminho do Contra é uma composição que carrega mensagens fortes de otimismo e esperança, nos lembrando que devemos ficar de bem com a vida.

Como é comum na sua poesia, Quintana se serve de uma linguagem singela e de exemplos do cotidiano para transmitir reflexões profundas e cheias de sabedoria.

Através destes versos, o autor imprimiu um caráter motivacional no seu Poeminho do Contra que serve de inspiração para muitos de nós.

A composição nos convida a continuar lutando, resistindo, apesar de todos os obstáculos no caminho. Mais que isso, o poema vem nos lembrar de uma lição vital: mesmo quando tudo parece estar perdido, precisamos confiar em nós mesmos e na vida.

Deste modo, o poeta sublinha as capacidades humanas de resiliência e superação, como se dissesse ao seu leitor: “Não desista!”.

Contexto histórico da criação

Existem alguns fatores históricos importantes que devemos considerar quando interpretamos o Poeminho do Contra.

A composição foi criada ainda durante o período da Ditadura Militar Brasileira. Na época, a censura cortava e apagava tudo o que poderia ser “subversivo” ou “perigoso” para o regime.

Quintana escrevia para o jornal Correio do Povo e um dos seus textos foi censurado. Acredita-se que esta pode ter sido a motivação por trás do poema, que transmite ideias de esperança e liberdade.

Outra coisa que pode ser relevante é a difícil relação entre Mario Quintana e a Academia Brasileira de Letras. O escritor se candidatou três vezes, entre o final dos anos 70 e começo da década de 80. De todas as vezes acabou sendo preterido face a outros autores.

Naquele tempo, se especulava que os critérios de escolha poderiam não estar apenas relacionados com a criação literária, mas também com questões políticas e sociais.

A este respeito, Quintana declarou:

Só atrapalha a criatividade. O camarada lá vive sob pressões para dar voto, discurso para celebridades. É pena que a casa fundada por Machado de Assis esteja hoje tão politizada. Só dá ministro.

Uma das teorias mais fortes acerca do Poeminho do Contra é a que o encara como uma resposta para os intelectuais e críticos que continuavam questionando a qualidade e o valor do trabalho de Quintana.

Sobre Mario Quintana

Mario Quintana (1906 — 1994) foi um notório poeta e jornalista brasileiro que continua sendo extremamente popular entre o público nacional.

Conhecido como “o poeta das coisas simples”, o autor parece, em cada composição, conversar com o leitor usando uma linguagem coloquial, próxima da oralidade.

Retrato do autor Mario Quintana.

Oscilando entre um tom mais doce ou mais irônico, suas composições muitas vezes carregam reflexões profundas ou até mesmo lições de vida, como é o caso de Poeminho do Contra.

Amado entre os adultos, o escritor também faz sucesso com o público infantojuvenil, para quem escreveu obras de poesia como Nariz de Vidro.

Fonte: Cultura Genial

MORTE E VIDA SEVERINA

O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI

— O meu nome é Severino,

não tenho outro de pia.

Como há muitos Severinos,

que é santo de romaria,

deram então de me chamar

Severino de Maria;

como há muitos Severinos

com mães chamadas Maria,

fiquei sendo o da Maria

do finado Zacarias.

Mas isso ainda diz pouco:

há muitos na freguesia,

por causa de um coronel

que se chamou Zacarias

e que foi o mais antigo

senhor desta sesmaria.

Como então dizer quem fala

ora a Vossas Senhorias?

Vejamos: é o Severino

da Maria do Zacarias,

lá da serra da Costela,

limites da Paraíba.

Mas isso ainda diz pouco:

se ao menos mais cinco havia

com nome de Severino

filhos de tantas Marias

mulheres de outros tantos,

já finados, Zacarias,

vivendo na mesma serra

magra e ossuda em que eu vivia.

Somos muitos Severinos

iguais em tudo na vida:

na mesma cabeça grande

que a custo é que se equilibra,

no mesmo ventre crescido

sobre as mesmas pernas finas,

e iguais também porque o sangue

que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos

iguais em tudo na vida,

morremos de morte igual,

mesma morte severina:

que é a morte de que se morre

de velhice antes dos trinta,

de emboscada antes dos vinte,

de fome um pouco por dia

(de fraqueza e de doença

é que a morte severina

ataca em qualquer idade,

e até gente não nascida).

Somos muitos Severinos

iguais em tudo e na sina:

a de abrandar estas pedras

suando-se muito em cima,

a de tentar despertar

terra sempre mais extinta,

a de querer arrancar

algum roçado da cinza.

Mas, para que me conheçam

melhor Vossas Senhorias

e melhor possam seguir

a história de minha vida,

passo a ser o Severino

que em vossa presença emigra.

*

ENCONTRA DOIS HOMENS CARREGANDO UM DEFUNTO NUMA REDE, AOS GRITOS DE: “Ó IRMÃOS DAS ALMAS! IRMÃOS DAS ALMAS! NÃO FUI EU QUE MATEI NÃO!”

— A quem estais carregando,

irmãos das almas,

embrulhado nessa rede?

dizei que eu saiba.

— A um defunto de nada,

irmão das almas,

que há muitas horas viaja

à sua morada.

— E sabeis quem era ele,

irmãos das almas,

sabeis como se chama

ou se chamava?

— Severino Lavrador,

irmão das almas,

Severino Lavrador,

mas já não lavra.

— E de onde que o estais trazendo,

irmãos das almas,

onde foi que começou

vossa jornada?

— Onde a Caatinga é mais seca,

irmão das almas,

onde uma terra que não dá

nem planta brava.

— E foi morrida essa morte,

irmãos das almas,

essa foi morte morrida

ou foi matada?

— Até que não foi morrida,

irmão das almas,

esta foi morte matada,

numa emboscada.

— E o que guardava a emboscada,

irmão das almas,

e com que foi que o mataram,

com faca ou bala?

— Este foi morto de bala,

irmão das almas,

mais garantido é de bala,

mais longe vara.

— E quem foi que o emboscou,

irmãos das almas,

quem contra ele soltou

essa ave-bala?

— Ali é difícil dizer,

irmão das almas,

sempre há uma bala voando

desocupada.

— E o que havia ele feito,

irmãos das almas,

e o que havia ele feito

contra a tal pássara?

— Ter uns hectares de terra,

irmão das almas,

de pedra e areia lavada

que cultivava.

— Mas que roças que ele tinha,

irmãos das almas,

que podia ele plantar

na pedra avara?

— Nos magros lábios de areia,

irmão das almas,

dos intervalos das pedras,

plantava palha.

— E era grande sua lavoura,

irmãos das almas,

lavoura de muitas covas,

tão cobiçada?

— Tinha somente dez quadras,

irmão das almas,

todas nos ombros da serra,

nenhuma várzea.

— Mas então por que o mataram,

irmãos das almas,

mas então por que o mataram

com espingarda?

— Queria mais espalhar-se

irmão das almas,

queria voar mais livre

essa ave-bala.

— E agora o que passará,

irmãos das almas,

o que é que acontecerá

contra a espingarda?

— Mais campo tem para soltar,

irmão das almas,

tem mais onde fazer voar

as filhas-bala.

— E onde o levais a enterrar,

irmãos das almas,

com a semente de chumbo

que tem guardada?

— Ao cemitério de Torres,

irmão das almas,

que hoje se diz Toritama,

de madrugada.

— E poderei ajudar,

irmãos das almas,

vou passar por Toritama,

é minha estrada.

— Bem que poderá ajudar,

irmão das almas,

é irmão das almas quem ouve

nossa chamada.

— E um de nós pode voltar,

irmãos das almas,

pode voltar daqui mesmo

para sua casa.

— Vou eu, que a viagem é longa,

irmãos das almas,

é muito longa a viagem

e a serra é alta.

— Mais sorte tem o defunto,

irmãos das almas,

pois já não fará na volta

a caminhada.

— Toritama não cai longe,

irmão das almas,

seremos no campo santo

de madrugada.

— Partamos enquanto é noite,

irmão das almas,

que é melhor lençol dos mortos

noite fechada.

MELO Neto, João Cabral de. Morte e Vida Severina e Outros Poemas em Voz Alta. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974. p. 73-79.