Enquanto o Brasil celebrava a primeira medalha da história do skate nas Olimpíadas, confederação e skatistas da ‘patota’ estranhamente silenciavam. “Será que agora vocês vão respeitar meu filho ou vão continuar a menosprezar ele? É uma vergonha o que fazem com meu filho”, desabafou pai
O silêncio da Confederação Brasileira de Skate (CBSk) sobre a medalha de prata de Kelvin Hoefler nos Jogos Olímpicos de Tóquio provocou questionamentos e motivou apurações na imprensa brasileira.
Bastante ativo nas redes, Duda Musa, presidente da CBSk, não havia realizado uma só postagem sequer em seu perfil pessoal do Instagram até a noite deste domingo (25), quase 24 horas após a conquista.
Há dezenas de publicações no perfil oficial da CBSk que vendem expectativa e imagem positiva de todos os atletas brasileiros que estão competindo em Tóquio. A única exceção é justamente Kelvin Hoefler.
Durante a performance histórica de Kelvin no sábado, chamou a atenção o fato de o atleta não ter nenhum treinador em seu corner para auxiliá-lo. O papel que caberia ao técnico da CBSk Rogério Mancha, que está em Tóquio, acabou sendo executado de improviso pela skatista Pâmela Rosa, 19, única amiga de Kelvin Hoefler.
Além de Pâmela, a esposa de Kelvin também o orientou por telefone. As imagens ganharam destaque na transmissão.
Letícia Bufoni, skatista brasileira que também competirá no Japão, foi questionada pela TV Globo sobre a ausência de comemoração após a medalha de prata de um atleta do Brasil. Ela justificou que Kelvin “não faz parte dos mesmos rolês que a gente, ele nunca faz parte das nossas atividades”. Fontes apuradas pelo portal UOL disseram que Letícia faz parte da ‘patota’ da CBSk.
Outro que integra a ‘patota’ é Felipe Gustavo, que foi eliminado em 14º nas eliminatórias e voltou para a Vila Olímpica. Ele postou apenas uma mensagem de “parabéns” para o japonês Yuto Horigome pela medalha de ouro. Pelo Instagram, onde tem 760 mil seguidores, ele não apenas nem citou a conquista de Kelvin como sequer segue o companheiro de seleção.
A fala fria de Letícia Bufoni e o desprezo Felipe Gustavo são a face visível de um racha dentro da seleção brasileira de skate. O incômodo de Kelvin e Pâmela com a gestão da CBSk ocorre há tempos e foi reforçado durante a preparação para as Olimpíadas, quando a seleção foi treinar nos Estados Unidos. Lá, ambos se sentiram desprestigiados na comparação com um grupo mais próximo do presidente Duda Musa que teria tido privilégios, inclusive acesso a familiares a treinadores próprios.
A gota d’água aconteceu há duas semanas, quando Kelvin e Pâmela, que já estavam concentrados com a seleção, pediram autorização para participar dos X-Games, na Califórnia, nos Estados Unidos. O comando da confederação respondeu que os skatistas precisavam viajar todos juntos para o Japão, como time, e por isso não conseguiriam competir nos EUA.
Quando os X-Games começaram, eles ficaram sabendo que Letícia Bufoni estava lá, sem ter Pâmela ou Rayssa Leal, a outra integrante do time brasileiro de street, como adversárias. Letícia ganhou a competição e um expressivo prêmio em dinheiro.
O entendimento de que Kelvin é preterido pela confederação ficou claro em um comentário do pai do skatista no Instagram da confederação, hoje, depois da medalha: “Será que agora vocês vão respeitar meu filho ou vão continuar a menosprezar ele [sic]? É nítido o que vocês estão fazendo. Essa medalha de prata representa todo esforço e dedicação dele. Vocês deveriam ser mais imparciais. É uma vergonha o que fazem com meu filho”, escreveu Enéas Hoefler.
Na noite deste domingo, Kelvin respondeu a fala de Letícia Bufoni sobre “não fazer parte dos roles” com os demais integrantes da seleção brasileira de skate. “Eu sou um cara bem pacato, sou do Guarujá, sou bem quieto, eu vim aqui para ganhar medalha, vim aqui para representar o meu país. E o que eu fiz? Estou aqui por um objetivo. Eu me isolei, fato, isolei, porque eu tenho um objetivo de levar essa medalha aqui para vocês, para todos os skatistas do Brasil, que eles sim merecem isso daqui”.
Fonte: Redação Pragmatismo