Embora seja formada por apenas quatro versos, Poeminho do Contra é uma das composições mais populares de Mario Quintana.
É também um dos seus poemas que mais se destaca pela mensagem que transmite ao leitor. Os versos “Eles passarão…/ Eu passarinho” se tornaram imensamente famosos e queridos entre o público brasileiro.
Quer entender melhor o poema e a sua complexidade? Confira a nossa análise.
Poeminho do Contra
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!
Análise e interpretação do Poeminho do Contra
A composição assume uma forma simples e popular, a quadra, rimando o primeiro verso com o terceiro e o segundo com o quarto (A-B-A-B). O registro de linguagem é também bastante acessível e próximo da oralidade.
Versos 1 e 2
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho
Começando pelo próprio título, o poema se declara “do contra”, afirmando assim que desafia ou resiste a alguma coisa.
Logo no primeiro verso encontramos uma explicação: o que incomoda eu-lírico são aqueles que estão “atravancando” o seu caminho.
Se estabelece, assim, uma dinâmica de “eu versus eles”. O sujeito é apenas um e enfrenta, sozinho, uma espécie de inimigo coletivo (“todos esses que aí estão”).
Podemos assumir que o eu-lírico se refere a seus inimigos, mas pode também estar mencionando os problemas e obstáculos que têm surgido na sua vida.
Versos 3 e 4
Eles passarão…
Eu passarinho!
Os dois versos finais são os mais conhecidos do poema, estabelecendo uma espécie de lema que podemos adotar para a nossa vida. Trata-se de um jogo de palavras entre o grau aumentativo de “pássaro” e o verbo “passar” conjugado no futuro.
O fato de serem palavras homônimas (que se dizem e escrevem da mesma forma) confere uma dupla interpretação para essa passagem.
Por um lado, podemos pensar que se trata do substantivo “pássaro” em graus diferentes. Assim, o sujeito poético estaria indicando que, na sua visão, os obstáculos são maiores do que ele, que é apenas um “passarinho”.
Por outro lado, “passarão” pode ser lido como uma conjugação futura do verbo “passar” (terceira pessoa do plural). Isso indicaria que todos os seus problemas são efêmeros e, eventualmente, irão se dissipar.
Deste modo, o sujeito pode ser comparado a um “passarinho”, sinônimo de liberdade e de leveza.
Significado do Poeminho do Contra
Poeminho do Contra é uma composição que carrega mensagens fortes de otimismo e esperança, nos lembrando que devemos ficar de bem com a vida.
Como é comum na sua poesia, Quintana se serve de uma linguagem singela e de exemplos do cotidiano para transmitir reflexões profundas e cheias de sabedoria.
Através destes versos, o autor imprimiu um caráter motivacional no seu Poeminho do Contra que serve de inspiração para muitos de nós.
A composição nos convida a continuar lutando, resistindo, apesar de todos os obstáculos no caminho. Mais que isso, o poema vem nos lembrar de uma lição vital: mesmo quando tudo parece estar perdido, precisamos confiar em nós mesmos e na vida.
Deste modo, o poeta sublinha as capacidades humanas de resiliência e superação, como se dissesse ao seu leitor: “Não desista!”.
Contexto histórico da criação
Existem alguns fatores históricos importantes que devemos considerar quando interpretamos o Poeminho do Contra.
A composição foi criada ainda durante o período da Ditadura Militar Brasileira. Na época, a censura cortava e apagava tudo o que poderia ser “subversivo” ou “perigoso” para o regime.
Quintana escrevia para o jornal Correio do Povo e um dos seus textos foi censurado. Acredita-se que esta pode ter sido a motivação por trás do poema, que transmite ideias de esperança e liberdade.
Outra coisa que pode ser relevante é a difícil relação entre Mario Quintana e a Academia Brasileira de Letras. O escritor se candidatou três vezes, entre o final dos anos 70 e começo da década de 80. De todas as vezes acabou sendo preterido face a outros autores.
Naquele tempo, se especulava que os critérios de escolha poderiam não estar apenas relacionados com a criação literária, mas também com questões políticas e sociais.
A este respeito, Quintana declarou:
Só atrapalha a criatividade. O camarada lá vive sob pressões para dar voto, discurso para celebridades. É pena que a casa fundada por Machado de Assis esteja hoje tão politizada. Só dá ministro.
Uma das teorias mais fortes acerca do Poeminho do Contra é a que o encara como uma resposta para os intelectuais e críticos que continuavam questionando a qualidade e o valor do trabalho de Quintana.
Sobre Mario Quintana
Mario Quintana (1906 — 1994) foi um notório poeta e jornalista brasileiro que continua sendo extremamente popular entre o público nacional.
Conhecido como “o poeta das coisas simples”, o autor parece, em cada composição, conversar com o leitor usando uma linguagem coloquial, próxima da oralidade.
Oscilando entre um tom mais doce ou mais irônico, suas composições muitas vezes carregam reflexões profundas ou até mesmo lições de vida, como é o caso de Poeminho do Contra.
Amado entre os adultos, o escritor também faz sucesso com o público infantojuvenil, para quem escreveu obras de poesia como Nariz de Vidro.
Fonte: Cultura Genial