O Dia do Nordestino é comemorado anualmente em 8 de outubro, no Brasil.
Esta data homenageia a cultura nordestina e a diversidade folclórica típica da região Nordeste do Brasil. O povo nordestino é um grande tesouro da cultura nacional, um dos maiores traços da identidade do Brasil.
O Nordeste brasileiro é conhecido pelas belíssimas paisagens naturais, culinária, artesanatos, musicalidade e danças que atraem turistas do mundo todo.
Os 9 estados que compõem o Nordeste são: Maranhão, Alagoas, Bahia, Ceará, Piauí, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe.
A criação desta data é uma homenagem ao centenário do poeta popular, compositor e cantor cearense Antônio Gonçalves da Silva, conhecido como Patativa do Assaré (1909 – 2002).
O Dia do Nordestino foi oficializado com a lei nº 14.952, de 13 de julho de 2009, na cidade de São Paulo, região com a maior concentração de nordestino em todo o país (com exceção do próprio Nordeste, obviamente).
Para homenagear essa data tão importante, trouxemos 13 poemas de diferentes poetas nordestinos (clássicos e contemporâneaos) que irão traduzir um pouco a representatividade desse povo tão especial na cultura brasileira e para o mundo.
Confira:
Brisa
Vamos viver no Nordeste, Anarina.
Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha.
Deixaras aqui tua filha, tua avó, teu marido, teu amante.
Aqui faz muito calor.
No Nordeste faz calor também.
Mas lá tem brisa:
Vamos viver de brisa, Anarina.
Sou o gibão do vaqueiro, sou cuscuz sou rapadura
Sou vida difícil e dura
Sou nordeste brasileiro
Sou cantador violeiro, sou alegria ao chover
Sou doutor sem saber ler, sou rico sem ser granfino
Quanto mais sou nordestino, mais tenho orgulho de ser
Da minha cabeça chata, do meu sotaque arrastado
Do nosso solo rachado, dessa gente maltratada
Quase sempre injustiçada, acostumada a sofrer
Mais mesmo nesse padecer eu sou feliz desde menino
Quanto mais sou nordestino, mais orgulho tenho de ser
Terra de cultura viva, Chico Anísio, Gonzagão de Renato Aragão
Ariano e patativa. Gente boa, criativa
Isso só me dá prazer e hoje mais uma vez eu quero dizer
Muito obrigado ao destino, quanto mais sou nordestino
Mais tenho orgulho de ser
Eita,Nordeste da peste,
Mesmo com toda sêca
Abandono e solidão,
Talvez pouca gente perceba
Que teu mapa aproximado
Tem forma de coração.
E se dizem que temos pobreza
E atribuem à natureza,
Contra isso,eu digo não.
Na verdade temos fartura
Do petróleo ao algodão.
Isso prova que temos riqueza
Embaixo e em cima do chão.
Procure por aí a fora
“Cabra” que acorda antes da aurora
E da enxada lança mão.
Procure mulher com dez filhos
Que quando a palma não alimenta
Bebem leite de jumenta
E nenhum dá pra ladrão
Procure por aí a fora
Quem melhor que a gente canta,
Quem melhor que a gente dança
Xote,xaxado e baião.
Procure no mundo uma cidade
Com a beleza e a claridade
Do luar do meu sertão.
Sendo eu, um aprendiz
A vida já me ensinou que besta
É quem vive triste
Lembrando o que faltou
Magoando a cicatriz
E esquece de ser feliz
Por tudo que conquistou
Afinal, nem toda lágrima é dor
Nem toda graça é sorriso
Nem toda curva da vida
Tem uma placa de aviso
E nem sempre o que você perde
É de fato um prejuízo
O meu ou o seu caminho
Não são muito diferentes
Tem espinho, pedra, buraco
Pra mode atrasar a gente
Mas não desanime por nada
Pois até uma topada
Empurra você pra frente
Tantas vezes parece que é o fim
Mas no fundo, é só um recomeço
Afinal, pra poder se levantar
É preciso sofrer algum tropeço
É a vida insistindo em nos cobrar
Uma conta difícil de pagar
Quase sempre, por ter um alto preço
Acredite no poder da palavra desistir
Tire o D, coloque o R
Que você tem Resistir
Uma pequena mudança
Às vezes traz esperança
E faz a gente seguir
Continue sendo forte
Tenha fé no Criador
Fé também em você mesmo
Não tenha medo da dor
Siga em frente a caminhada
E saiba que a cruz mais pesada
O filho de Deus carregou
Sertão, argúem te cantô,
Eu sempre tenho cantado
E ainda cantando tô,
Pruquê, meu torrão amado,
Munto te prezo, te quero
E vejo qui os teus mistéro
Ninguém sabe decifrá.
A tua beleza é tanta,
Qui o poeta canta, canta,
E inda fica o qui cantá.
(De EU E O SERTÃO – Cante lá que eu canto Cá – Filosofia de um trovador nordestino – Ed.Vozes, Petrópolis, 1982)
Tenho prazer de falar.
Da minha terra fiel.
Arte, Cultura, Cordel.
O verde, a flor de açucena.
Nos braços dessa morena.
Me briagar de paixão.
Nas festas de são João.
Festejar com alegria.
Sou forró e poesia.
Sou caboclo do sertão…
Autor: Rogério Dantas
Caicó- RN- 16/07/ 2013
***
Sou nordestino!
Sou do sertão terra quente
que é bem difícil chover
nasci de um povo valente
acostumado a sofrer
sou nordestino oxente
e tenho orgulho de ser
“Minha alma triste suspira
em deslumbrante desejo,
ausente da minha terra,
há tempos que não a vejo.
são suspiros arrancados
do peito de um sertanejo.”
O qui é Brasí Caboco?
É um Brasi diferente
do Brasí das capitá.
É um Brasi brasilêro,
sem mistura de instrangero,
um Brasi nacioná!
É o Brasi qui não veste
liforme de gazimira,
camisa de peito duro,
com butuadura de ouro…
Brasi caboco só veste,
camisa grossa de lista,
carça de brim da “polista”
gibão e chapéu de coro!
Depois da “festa” quem é
Que vai se lembrar de junho?
Defender a Natureza
Pra mim não será rascunho
E sim a arte final
A nível universal
Quem falhar eu testemunho…
Se eu conversasse com Deus
Iria lhe perguntar:
Por que é que sofremos tanto
Quando viemos pra cá?
Que dívida é essa
Que a gente tem que morrer pra pagar?
Perguntaria também
Como é que ele é feito
Que não dorme, que não come
E assim vive satisfeito.
Por que foi que ele não fez
A gente do mesmo jeito?
Por que existem uns felizes
E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito,
Moramos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?
O site Cultura Genial listou “os 15 maiores poemas de amor da literatura brasileira”, em uma seleção que envolve os maiores nomes da nossa literatura, Vinícius de Moraes, Adelia Prado, Mario Quintana, Cora Coralina, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, entre outros!
Confira aí, se gostar, compartilhe entre seus amigos e amores!
1. Soneto do amor total, de Vinícius de Moraes
Pesquisar os livros do poetinha, como ficou conhecido Vinícius de Moraes, é se deparar com um manancial de poemas de amor. Apaixonado pela vida e pelas mulheres, Vinícius casou-se nove vezes e escreveu uma série de versos apaixonados. O poema mais conhecido talvez seja o Soneto de fidelidade.
O Soneto do amor total foi escolhido porque tem uma delicadeza ímpar e ilustra com precisão as várias facetas de uma relação amorosa.
Soneto do amor total
Amo-te tanto, meu amor… não cante O humano coração com mais verdade… Amo-te como amigo e como amante Numa sempre diversa realidade
Amo-te afim, de um calmo amor prestante, E te amo além, presente na saudade. Amo-te, enfim, com grande liberdade Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente, De um amor sem mistério e sem virtude Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim muito e amiúde, É que um dia em teu corpo de repente Hei de morrer de amar mais do que pude.
2. Tenta-me de novo, de Hilda Hilst
Hilda Hilst também é um nome incontornável quando se pensa em amor na poesia brasileira. A escritora paulista escreveu versos que vão desde a escrita erótica até a lírica idealizada.
Quando se pensa em poesia de amor, o mais frequente é que se imagine versos de uma relação jovem. Tenta-me de novo é um dos raros poemas que trata de um amor que já acabou e de um amante que deseja conquistar o afeto de volta.
Tenta-me de novo
E por que haverias de querer minha alma Na tua cama? Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas Obscenas, porque era assim que gostávamos. Mas não menti gozo prazer lascívia Nem omiti que a alma está além, buscando Aquele Outro. E te repito: por que haverias De querer minha alma na tua cama? Jubila-te da memória de coitos e acertos. Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
3. Canção, de Cecília Meireles
Em apenas quinze versos, Cecília Meireles consegue compor na sua Canção uma ode à urgência do amor. Singelo e direto, os versos convocam o retorno do amado. O poema, presente no livro Retrato natural (1949), também conjuga elementos recorrentes na lírica da poetisa: a finitude do tempo, a transitoriedade do amor, o movimento do vento.
Canção
Não te fies do tempo nem da eternidade, que as nuvens me puxam pelos vestidos que os ventos me arrastam contra o meu desejo! Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã morro e não te vejo! Não demores tão longe, em lugar tão secreto, nácar de silêncio que o mar comprime, o lábio, limite do instante absoluto! Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã eu morro e não te escuto! Aparece-me agora, que ainda reconheço a anêmona aberta na tua face e em redor dos muros o vento inimigo… Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã eu morro e não te digo…
4. As sem-razões do amor, de Carlos Drummond de Andrade
Celebrado como um dos melhores poemas da literatura brasileira, As sem-razões do amor trata da espontaneidade do amor. De acordo com o eu lírico, o amor arrebata e arrasta o amador independente da atitude do parceiro. O próprio título do poema já indica como os versos irão se desdobrar: o amor não exige troca, não é resultado do merecimento e não pode ser definido.
As sem-razões do amor
Eu te amo porque te amo. Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo. Amor é estado de graça e com amor não se paga.
Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo bastante ou de mais a mim. Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor.
O poema de amor provavelmente mais citado de Bilac é Via Láctea, um clássico aprendido nos tempos de escola. Os versos abaixo, no entanto, apesar de pouco conhecidos, são também uma obra prima do autor. O poeta, que atuou como jornalista, foi um dos maiores representantes do movimento Parnasiano no Brasil e a sua lírica é marcada pela metrificação e pela representação de um sentimento idealizado.
XXX
Ao coração que sofre, separado Do teu, no exílio em que a chorar me vejo, Não basta o afeto simples e sagrado Com que das desventuras me protejo. Não me basta saber que sou amado, Nem só desejo o teu amor: desejo Ter nos braços teu corpo delicado, Ter na boca a doçura de teu beijo. E as justas ambições que me consomem Não me envergonham: pois maior baixeza Não há que a terra pelo céu trocar; E mais eleva o coração de um homem Ser de homem sempre e, na maior pureza, Ficar na terra e humanamente amar.
6. Futuros amantes, de Chico Buarque
O mais conhecido letrista brasileiro tem uma série de versos dedicados ao amor. São tantos que é até criminoso selecionar apenas um poema do manancial de belezas já escritas. No entanto, diante do desafio, escolhemos Futuros amantes, um daqueles clássicos que nunca perde a validade.
Futuros amantes
Não se afobe, não Que nada é pra já O amor não tem pressa Ele pode esperar em silêncio Num fundo de armário Na posta-restante Milênios, milênios No ar
E quem sabe, então O Rio será Alguma cidade submersa Os escafandristas virão Explorar sua casa Seu quarto, suas coisas Sua alma, desvãos
Sábios em vão Tentarão decifrar O eco de antigas palavras Fragmentos de cartas, poemas Mentiras, retratos Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não Que nada é pra já Amores serão sempre amáveis Futuros amantes, quiçá Se amarão sem saber Com o amor que eu um dia Deixei pra você
Singelo e cotidiano, Meu destino, da goiana Cora Coralina, merece elogios pela maneira simples e sutil com que relata o encontro amoroso. A poetisa, com a delicadeza dos versos que compõe, faz parecer fácil construir uma relação de afeto duradoura. Meu destino conta uma pequena fábula: a história de duas pessoas que se conheceram e resolvem construir uma relação.
Meu destino
Nas palmas de tuas mãos leio as linhas da minha vida. Linhas cruzadas, sinuosas, interferindo no teu destino. Não te procurei, não me procurastes – íamos sozinhos por estradas diferentes. Indiferentes, cruzamos Passavas com o fardo da vida… Corri ao teu encontro. Sorri. Falamos. Esse dia foi marcado com a pedra branca da cabeça de um peixe. E, desde então, caminhamos juntos pela vida…
Teresa é um dos poemas mais marcantes do modernismo brasileiro, todos nós, provavelmente, fomos apresentados a esses versos ainda na escola.
Teresa consta nessa lista porque é um dos poucos poemas de amor capaz de conter traços de humor. A comicidade de Bandeira surge com a descrição da reação durante o primeiro encontro do casal. Os versos depois se encarregam de mostrar como o relacionamento se transforma e a percepção em relação a amada muda.
Teresa
A primeira vez que vi Teresa Achei que ela tinha pernas estúpidas Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo (Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada Os céus se misturaram com a terra E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
9. Bilhete, de Mario Quintana
A delicadeza do poema de Mário Quintana começa já no título: Bilhete anuncia um tipo de recado direto, apenas partilhado entre os amantes. Os versos fazem uma elegia ao amor discreto, sem grandes alardes, partilhado unicamente entre os apaixonados.
Bilhete
Se tu me amas, ama-me baixinho Não o grites de cima dos telhados Deixa em paz os passarinhos Deixa em paz a mim! Se me queres, enfim, tem de ser bem devagarinho, Amada, que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…
10. Amar você é coisa de minutos…, de Paulo Leminski
Os versos livres de Leminski são direcionados diretamente à amada e seguem o tom de uma conversa. Apesar de ser um poema contemporâneo, os versos parecem anacrônicos porque prometem uma fidelidade total e absoluta seguindo os moldes do amor romântico.
Amar você é coisa de minutos…
Amar você é coisa de minutos A morte é menos que teu beijo Tão bom ser teu que sou Eu a teus pés derramado Pouco resta do que fui De ti depende ser bom ou ruim Serei o que achares conveniente Serei para ti mais que um cão Uma sombra que te aquece Um deus que não esquece Um servo que não diz não Morto teu pai serei teu irmão Direi os versos que quiseres Esquecerei todas as mulheres Serei tanto e tudo e todos Vais ter nojo de eu ser isso E estarei a teu serviço Enquanto durar meu corpo Enquanto me correr nas veias O rio vermelho que se inflama Ao ver teu rosto feito tocha Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha Sim, eu estarei aqui
Amor, de Álvares de Azevedo, é um clássico poema da geração romântica brasileira. Seus versos ilustram uma época e uma postura de devoção, quase idealizada, entre um homem apaixonado e uma mulher que é basicamente contemplada.
Embora o poema seja, de certa forma, o retrato de uma época, os versos são tão bem compostos que transcendem o tempo.
Amor
Amemos! Quero de amor Viver no teu coração! Sofrer e amar essa dor Que desmaia de paixão! Na tu’alma, em teus encantos E na tua palidez E nos teus ardentes prantos Suspirar de languidez! Quero em teus lábio beber Os teus amores do céu, Quero em teu seio morrer No enlevo do seio teu! Quero viver d’esperança, Quero tremer e sentir! Na tua cheirosa trança Quero sonhar e dormir! Vem, anjo, minha donzela, Minha’alma, meu coração! Que noite, que noite bela! Como é doce a viração! E entre os suspiros do vento Da noite ao mole frescor, Quero viver um momento, Morrer contigo de amor!
12. Cantiga para não morrer, de Ferreira Gullar
Um dos maiores poetas da literatura brasileira, Ferreira Gullar, ficou mais conhecido por seus versos políticos e de cunho social. No entanto, também é possível encontrar em sua poética trabalhos dedicados ao amor, pérolas pontuais como Cantiga para não morrer. Apesar de ser um autor contemporâneo, Gullar usa alguns traços românticos em seu poema.
O afeto pela amada é tão grande e transbordante que o eu lírico pede que ele permaneça com ela em seu pensamento, mesmo que sob a forma de esquecimento.
Cantiga para não morrer
Quando você for se embora, moça branca como a neve, me leve.
Se acaso você não possa me carregar pela mão, menina branca de neve, me leve no coração.
Se no coração não possa por acaso me levar, moça de sonho e de neve, me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa por tanta coisa que leve já viva em seu pensamento, menina branca de neve, me leve no esquecimento.
13. Casamento, de Adélia Prado
Os versos de Adélia Prado celebram o casamento, as relações cotidianas e de longo prazo. Contado quase como uma espécie de historinha, o poema mostra detalhes da intimidade da vida a dois e os pequenos afetos que se escondem na rotina do par. Chama a atenção do leitor a beleza com que é realçada a cumplicidade do casal.
Casamento
Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como ‘este foi difícil’ ‘prateou no ar dando rabanadas’ e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva.
14. Beijo eterno, de Castro Alves
O poema abaixo é um dos mais importantes exemplares da poesia romântica brasileira. Castro Alves pinta em sua lírica um amor pleno, idealizado e eterno. No entanto, como pertence à terceira fase do Romantismo, Castro Alves já inclui em seus versos alguma sensualidade relacionada à amada.
Beijo eterno
Quero um beijo sem fim, Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo! Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo, Beija-me assim! O ouvido fecha ao rumor Do mundo, e beija-me, querida! Vive só para mim, só para a minha vida, Só para o meu amor!
Fora, repouse em paz Dormindo em calmo sono a calma natureza, Ou se debata, das tormentas presa, Beija inda mais! E, enquanto o brando calor Sinto em meu peito de teu seio, Nossas bocas febris se unam com o mesmo anseio, Com o mesmo ardente amor!
Diz tua boca: “Vem!” Inda mais! diz a minha, a soluçar… Exclama Todo o meu corpo que o teu corpo chama: “Morde também!” Ai! morde! que doce é a dor Que me entra as carnes, e as tortura! Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura, Morto por teu amor!
Quero um beijo sem fim, Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo! Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo! Beija-me assim! O ouvido fecha ao rumor Do mundo, e beija-me, querida! Vive só para mim, só para a minha vida, Só para o meu amor!
O navio negreiro é outro grande poema de autoria de Castro Alves que merece ser conhecido.
15. O amor comeu meu nome, de João Cabral de Melo Neto
O poema abaixo é um dos mais belos monumentos ao amor presente na literatura brasileira. João Cabral de Melo Neto consegue descrever com precisão, em algumas linhas, como é estar apaixonado, como o sentimento de amor se apossa do sujeito e se alastra na vida cotidiana.
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome. O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos. O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina. O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos. Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina. O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água. O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome. O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel. O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso. O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala. O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
Fonte: Cultura Genial
Escrito por: Rebeca Fuks – Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).
Obs. Não conseguimos identificar a autoria das imagens
Natural de Condeúba- Bahia, Edson Pereira Silveira é poeta, professor e escritor. Amante da arte e da poesia é autor da Obra “Memórias de Um Sonhador”. É integrante do Movimento Cultivista Café com Poemas. Faz parte de várias Antologias Poéticas, entre elas estão as Antologias Café com Poemas Vol.I e II, em destaque a “Antologia Poética: 300 Poemas de Amor” lançada na Bienal do Livro, no Rio de Janeiro pela Editora Mágico de Oz.
Com adesão a OFHM – Ordem Federativa de Honra ao Mérito; Conquistou o Premio Cultivador da Cultura (Poeta Nacional).
Participou também de importantes projetos literários virtuais (Projeto Trechos de Poesia) organizado por grandes idealizadores do meio literário. Teve a satisfação em estar no Jornal Correio da Palavra, com a poesia: A princesa dos Sonhos.
Em representações internacionais, o escritor teve a honra de participar de algumas Antologias virtuais da Argentina.
O prestígio de ser representado na Expo Poemas, na Bienal em Portugal.
E o privilégio de participar de mais um Projeto Internacional – desta vez, uma Antologia infantil: “O que fazer para Salvar o Planeta?”
Obra literária bilíngue e ilustrada, lançada nos Estados Unidos…
Recentemente lançou seu primeiro Ebook: “O Idealista- Rompendo Paradigmas”.
Rubem Alves (1933-2014) foi teólogo, educador, tradutor, psicanalista e escritor brasileiro. Autor de livros de filosofia, teologia, psicologia e de histórias infantis.
Rubem Alves nasceu na cidade de Boa Esperança, em Minas Gerais, no dia 15 de setembro de 1933. Em 1945 muda-se com a família para o Rio de Janeiro. Criado em uma família protestante, tornou-se pastor.
Formação
Entre 1953 e 1957 cursou Teologia no Seminário Presbiteriano de Campinas, São Paulo. Em 1958 mudou-se para a cidade de Lavras, Minas Gerais, onde exerceu a função de pastor até 1963.
Ainda em 1963, Rubem Alves foi estudar em Nova York, retornando em 1964, com o título de Mestre em Teologia, pela Union Theological Seminary.
O Teólogo
Em 1968, perseguido pelo regime militar, acusado de subversivo, Rubem Alves, a mulher e os filhos seguiram para os Estados Unidos, onde no Seminário Teológico de Princeton, escreveu sua tese de doutorado: “Por Uma Teologia da libertação”.
Rubem foi o primeiro a usar essa expressão, baseada em uma corrente de pensamento, defendida por teólogos protestantes e católicos, que afirmava que Deus e a Bíblia tinha preferência pelos pobres e que, as religiões deveriam se posicionar ao lado dos oprimidos.
A tese foi transformada em livro, publicado nos Estados Unidos, com o título de “Teologia da Esperança Humana”, por sugestão do editor.
Essa corrente ganhou força nas décadas de 70 e 80. O livro só pode ser editado no Brasil depois da ditadura militar, em 1987. Com o título “Da Esperança”. A publicação com o título original “Por Uma Teologia da Libertação” só saiu no Brasil em 2012.
Sua posição liberal trouxe sérios problemas no seu relacionamento com o protestantismo histórico e especialmente com o presbiterianismo. De volta ao Brasil, magoado com seus companheiros pastores, que desconfiavam de suas ideias, se viu obrigado a abandonar o pastorado.
Rubem Alves rompeu com a Igreja Presbiteriana do Brasil em 1970, e afirmou:
“Sempre entendi que o Evangelho é um chamado à liberdade. Não encontro a liberdade na Igreja Presbiteriana do Brasil. É hora, portanto, de buscar a comunhão do Espírito fora dela”.
Professor
De volta ao Brasil, nos anos 70, Rubem Alves passou a lecionar filosofia na Universidade de Campinas (Unicamp). Ocupou diversos cargos, entre eles, o de Diretor da Assessoria Especial para Assuntos de Ensino, de 1983 a 1985.
Psicanalista
Nos anos 80, tornou-se psicanalista através da Sociedade Paulista de Psicanálise. Passou a escrever nos grandes jornais sobre comportamento e psicologia.
Rubem Alves, depois de aposentado, investiu seu tempo em um restaurante para exercer seu gosto pela gastronomia. O local era também usado para eventos culturais que envolviam cinema, pintura e literatura.
Rubem Alves é autor de 120 títulos, de assuntos variadíssimos – de pedagogia a literatura infantil, passando pela filosofia e culinária.
Outras Obras de Rubem Alves
O Que é Religião? (filosofia e religião)
A Volta do Pássaro Encantado
O Patinho que não Aprendeu a Voar (livro infantil)
Variações Sobre a Vida e a Morte (teologia)
Filosofia da Ciência (filosofia e conhecimento científico).
Rubem Alves faleceu em Campinas, São Paulo, no dia 19 de julho de 2014.
Frases de Rubem Alves
Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses.
A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar.
A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente.
Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.
Aprenda a gostar, mas gostar mesmo, das coisas que deve fazer e das pessoas que o cercam. Em pouco tempo descobrirá que a vida é muito boa e que você é uma pessoa querida por todos.
Aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas, porque a gente não esquece. O que a memória ama fica eterno.
O tempo pode ser medido com as batidas de um relógio ou pode ser medido com as batidas do coração.
Considero Caculé A minha segunda terra Quem já falou de verdade Aqui e agora não erra É muito amor e respeito! Explode dentro do peito O som do grito que encerra
Posso dizer que o destino Comigo foi magnífico Partindo de Ituaçu Pra cursar o científico Sem sequer imaginar Que tudo iria mudar Cheguei dizendo: eu fico
E desde o primeiro ano Intensamente vivido Por doutor “Vespasiano” Fui super bem recebido E como quem evolui Em pouco tempo eu já fui Ficando desinibido
A minha primeira casa Preste atenção me acompanhe Foi a casa do “Seu” Seixas Colega da minha mãe Se nada aqui eu invento Pra lá, bem pra lá de atento Que a memória me apanhe
Gozava da simpatia Dos mestres, dos professores Também das moças bonitas Por quem morria de amores Amigo da mocidade De todos lá cidade Das senhoras, dos senhores
Já era amante da música Meus companheiros cantavam Aula de educação física Seresteiros se atrasavam “Deba” mostrava o relógio… Ele e o professor Eustórgio Quase sempre aliviavam
Pude também estudar Na escola do bom boêmio Gostava de uma cachaça Não era nada abstêmio Violão era o instrumento “Arnunice” era um talento Mestre “Dudula” é um gênio
Lá no Hotel Livramento Onde pude me hospedar Fiquei um tempo e parti Pra casa de dona Iaiá, Vivi momentos tranquilos Sendo amigo dos seus filhos De todos que estavam lá
Zé Clemente era um colega O mais chegado, o mais intimo Acompanhava as loucuras Impondo sempre o seu ritmo Me apaixonei por Dalbinha Pensei que ela fosse minha Que sentimento legítimo!
Ao lado morava Nina A minha nova paixão Digo que sua beleza Tamanho não tinha não Mas num momento solene Me lembro bem, foi Marlene Dona do meu coração
Mesmo sem falar de todas Não fica fora nenhuma Bem vivo aqui na memória O Cheiro de cada uma No mar da minha existência Navegam sim, com frequência Sem se perderem na espuma
Chegou a vez dos amigos: Eu não me esqueço, ora veja De Abdenor e Maroca Ali na Praça da Igreja Dilma, Celsa e Celeide Cada qual era uma lady Que a minha saudade beija
Dirceu, Sessé, Roseli Era grande essa família Eu quase fui adotado Vejam que maravilha Foi rica essa convivência De tanta inteligência Feliz de quem compartilha
Jogava a minha sinuca Lá no bar de seu “Nozinho” Em meio a tantos parceiros Eu não estava sozinho Pagava a conversa fiada Mandavam minha mesada Dona Nita e Seu Dadinho
Pra falar de todo mundo Sei que vai faltar papel Meu Deus, são muitas figuras Não cabem num só Cordel Queria contar uns causos Pois todos merecem aplausos E eu tiro até meu chapéu.
No fim daquele três anos A coisa ficou bem séria Caí na segunda época Em duas ou três matérias Tendo que passar por crivos Meti a cara nos livros E até que enfim tive férias
Já me sentia um músico Mesmo que um autodidata Foram muitas as lições Que eu aprendi com a nata Quem batia uma viola Nunca fez de radiola Uma linda serenata
Já tendo o segundo grau Apesar de tanta súplica Eu tirei um bom proveito Lá daquela escola pública Chegando na capital Percebi que andava mal A nossa velha república
Enquanto que a medicina Não abria a inscrição Fiz teste no Seminário Mostrei minha aptidão Pra não perder a viagem Matriculei de passagem No curso de percussão
Ali encontrei Tom Zé Que era mestre e aluno Aproveitei o que pude E num momento oportuno Eu conheci o Galvão E aí a composição Pode tomar outro rumo
Já era sessenta e sete E o destino fez seus planos Nas ruas de Salvador Nascem os Novos Baianos Voando num céu Azul Logo parti para o sul Junto com aqueles manos
Perdoem a minha ausência O compromisso me fez Estar em outros lugares E não aí com vocês Mas vou dizer a verdade Em outra oportunidade Não tem senão, nem talvez.
Aí me joguei na vida E precisava ter fé A nossa carreira artística Já começava a dar pé Foi quando falei e disse De Dudula e de Arnunice Meus mestres de Caculé
Eu nunca fui de esquecer Os meus momentos felizes Nem também de abandonar Minhas profundas raízes Cumprindo assim meu papel Permanecendo fiel A todas essas matrizes
Que venham as homenagens Cantemos todos em coro Na festa do Interior Na festa que é um estouro As coisas andam no GV trilho Já que o prefeito é o filho Do saudoso Chico Louro
Caio Fernando Loureiro de Abreu nasceu em Santiago do Boqueirão, no interior do Rio Grande do Sul, no dia 12 de setembro de 1948. Com seis anos escreveu seu primeiro texto. Em 1963, junto com a família, mudou-se para Porto Alegre onde cursou o colegial. Em 1966 publicou seu primeiro conto “O Príncipe Sapo”, na revista Cláudia. Nesse mesmo ano iniciou seu primeiro romance “Limite Branco”.
Em 1967, Caio Fernando Abreu ingressou nos cursos de Letras e de Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas não se formou. Em 1968 mudou-se para São Paulo para ingressar na primeira redação da revista Veja, após ser selecionado em um concurso nacional. Nessa época, era assíduo frequentador dos bares da moda além de ser amigo do cantor Cazuza.
No começo dos anos 70 sendo perseguido pela ditadura militar, Caio Fernando Abreu leva uma vida errante. Em 1971, foi morar no Rio de Janeiro onde passou a trabalhar como pesquisador e redator das revistas Manchete e Pais e Filhos. Nesse mesmo ano, retorna para Porto Alegre onde é preso por porte de drogas.
Em 1973, fugindo do regime militar, Caio Fernando Abreu se exilou na Europa, morou em Londres e em Estocolmo, tendo que lavar pratos para se sustentar. Em 1974, volta para Porto Alegre e recomeça sua criação literária. Escreve para o teatro e colabora com diversos veículos de imprensa.
O Ovo Apunhalado (1975)
Em 1975, Caio Fernando Abreu lança seu terceiro livro, “O Ovo Apunhalado”, que apresenta 21 contos divididos em três partes: ALFA, BETA e GAMA. A obra reflete os acontecimentos que abalaram a sociedade na década de 70, período marcado pela ditadura militar. A obra sofre vários cortes da censura, mas mesmo assim, é considerado um dos melhores livros do ano e recebe menção honrosa do Prêmio Nacional de Ficção.
Morangos Mofados (1982)
Em 1982, Caio Fernando Abreu lança sua obra mais popular que o tornou conhecido: “Morangos Mofados” é um livro de contos que são verdadeiros curtas-metragens sobre a grande metrópole e os zumbis que habitam suas áreas de penumbra. No melhor livro do autor, ele encontra a medida justa para expressar a tragédia de uma geração entre o sufoco, a solidão isolada ou compartilhada, combatida a golpes de bebida, drogas, sexo hetero e homo, ou fuga suprema pela opção do suicídio.
Prêmios
Caio Fernando Abreu recebeu três vezes o Prêmio Jabuti, na Categoria Contos, Crônicas e Novelas com as obras: “O Triângulo das Águas” (1984), “Os Dragões Não Conhecem o Paraíso” (1989) e “As Ovelhas Negras” (1995). Em 1989 recebe o Prêmio Moliere, junto com Luiz Artur Nunes, com a peça “A Maldição do Vale Negro” (1988). Em 1990 publica seu último romance “Onde Andará Dulce Veiga?”, que em 1991 recebe o Prêmio da APC, de melhor romance do ano. A obra posteriormente foi adaptada para o cinema.
Doença e Morte
Em 1993, Caio Fernando Abreu passa a escrever crônicas semanais para o Estado de São Paulo. Em 1994 descobre que é portador do vírus da AIDS. Resolve declarar publicamente no jornal O Estado de S. Paulo, uma série de três cartas denominadas “Cartas para Além do Muro”, onde revela ser portador do vírus da AIDS.
Caio Fernando Abreu faleceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no dia 25 de fevereiro de 1996.
Frases de Caio Fernando Abreu
Nada em mim foi covarde, nem mesmo as desistências: desistir, ainda que não pareça, foi meu grande gesto de coragem.
Estou me afastando de tudo que me atrasa, me engana, me segura e me retém. Estou me aproximando de tudo que me faz completo, me faz feliz e que me quer bem.
A vida é feita de escolhas. Quando você dá um passo à frente, inevitavelmente alguma coisa fica para trás.
Mesmo sem compreender, quero continuar aqui onde está constantemente amanhecendo.
Obras de Caio Fernando Abreu
Limite Branco (1971) O Ovo Apunhalado (1975) Pedras de Calcutá (1977) Morangos Mofados (1982) Triângulo das Águas (1983) As Frangas (1988) Mel e Girassóis (1988) Os Dragões Não Conhecem o Paraíso (1988) A Maldição do Vale Negro (1988) Onde Andará Dulce Veiga? (1990) Ovelhas Negras (1995) Estranhos Estrangeiros (1996)
“Se o poeta popular vai para feira declamar poesia, eu vou para internet, que é uma feira grande, a maior do mundo, onde tem gente de todo lugar, não tem fronteiras e funciona 24h por dia. Vou fazer poesia, gravar vídeos, e compartilhar”. É assim que o cordelista cearense Bráulio Bessa define o seu fazer artístico.
O cordelista cearense viu sua arte ganhar uma projeção inimaginável depois de se tornar colaborador fixo do programa Encontro com Fátima Bernardes, da TV Globo. “Às vezes me sinto até culpado, com um remorso, por ter tanta gente boa com quem eu aprendo, de quem eu sou fã, que se eu pudesse… Mas agradeço muito a oportunidade de através da poesia falar de tantos temas, de racismo, homofobia, perdão, educação, meio ambiente, semanalmente, às 11h, na TV aberta. E com poesia, que é esse bicho mal educado”, comentou.
Bráulio começou a escrever aos 14 anos, depois de conhecer a poesia de Patativa de Assaré em uma aula de literatura. Meses antes, ele tinha sido perguntado por outra professora o que queria ser quando crescer, mas não tinha resposta a pergunta, que continuou ressoando. “Depois de escrever o meu primeiro poema, fui até a professora e disse que queria ser poeta, e já tinha até escrito algo”, lembra.
“O que me bole é esse poder transformador, conscientizador, que existe na palavra, na poesia. Minha maior fonte de inspiração é gente, e aí sim transformar tudo isso em poesia. Olhar para cada um aqui, e perceber que existe poesia. Eu vejo poesia no povo!” – Bráulio Bessa
Texto reproduzido pelo site Correio24h e assinado por Marília Moreira
O poeta cearense Bráulio Bessa mora no coração das massas. Ele é poeta, cordelista, declamador, palestrante brasileiro e mais recente escritor de livros. A história desse jovem é cheia de cultura nacional.
Biografia Bráulio Bessa
Bráulio Bessa nasceu no município de Alto Santo, no Sertão do Ceará, no ano de 1986. Com 14 anos aprendeu a amar a poesia de seu conterrâneo Patativa do Assaré (1909-2002). Depois que uma professora passou um trabalho escolar de pesquisa sobre o grande poeta de cordel.
Bráulio Bessa, “o neto de Dedé sapateiro”, como é conhecido em sua cidade natal. Entrou em contato com a poesia de Patativa e se tornou um “fazedor de poesias”, como ele mesmo se define. Com grandes sonhos, ingressou na faculdade, no curso de análise de sistemas, que lhe motivou a criar um movimento na internet para divulgar e defender o povo e a cultura nordestina, do preconceito que aflora no resto do país.
No começo, para ser ouvido, Bráulio revolveu adaptar seus versos para o teatro da escola e logo estava conquistando prêmios em cidades vizinhas. A guinada se deu quando visualizou nas redes sociais uma espécie de feira moderna onde podia publicar vídeos de cordéis e poemas sobre vários temas, como medo, preconceito, amor, depressão, identidade. Foi quando percebeu não apenas o poder da internet, mas também a força das palavras.
Sinceridade e pureza
Em 2012, Bráulio criou o blog “Nação Nordestina”, que logo conquistou milhares de seguidores. Com a força do projeto e o objetivo de divulgar a literatura de cordel, o poeta reuniu sua paixão pela cultura popular, pela poesia matuta de cordel e a internet, e em sua cidade natal. Bráulio passou a gravar vídeos com frequência e postar suas poesias na mídia. Logo, seus vídeos conquistaram 30 milhões de visualizações.
Com estilo até pelas suas origens e influência, calcado na literatura de cordel, os poemas de Bráulio falam fundo no coração e mente das pessoas. Um ingrediente poderoso que salta aos olhos do leitor é a sinceridade e pureza da narrativa do poeta, que tem o dom de falar não o que as pessoas querem ouvir, mas o que precisam ouvir. São orações do cotidiano enfeitadas de palavras de incentivo, como aquele que o autor chama de seu clássico.
O sucesso de suas poesias chegou ao ambiente da televisão e Bráulio passou a se apresentar em programas de entrevistas. Onde declamava e contava suas histórias. Foi convidado pelo programa Encontro, da rede Globo e com o sucesso conquistado passou a ocupar semanalmente um quadro intitulado Poesia com Rapadura, em que o poeta declama cordéis e poesias, além de participar de bate-papo com os convidados.
Esse quadro no qual Bráulio declamava suas poesias se transformou em um livro. Os temas centrais da obra são dramas dos dias atuais, como a violência e o preconceito, passando pelo cancioneiro sertanejo e pelo amor.
O livro Poesia que Transforma
Em Poesia que transforma, Bráulio Bessa faz mais do que publicar poemas declamados no famoso Encontro com Fátima Bernardes. Ele conta a história por trás dos poemas ou casos da sua vida que refletem as linhas rimadas. Como era de se imaginar, não foi fácil para Bráulio ganhar a vida como poeta, tornar-se reconhecido nacionalmente. Mas não é só sobre as dificuldades e superações que o poeta nordestino fala em seu livro.
Bráulio aborda a importância da família, de ter raízes e asas, de ter pessoas a quem confiar o coração, de entender que o ser humano muda o tempo todo e a todo tempo. Porque quem é completo, perfeito é quem já está morto e não tem mais o que mudar. Bessa tem a voz suave, a narrativa com cheiro de café da tarde na varanda de casa. Essa voz mansa, que nos embala em casos da infância, da juventude e nos planos para o futuro.
Frases e Pensamentos de Bráulio Bessa
Sendo eu, um aprendiz A vida já me ensinou que besta É quem vive triste Lembrando o que faltou
Magoando a cicatriz E esquece de ser feliz Por tudo que conquistou
Afinal, nem toda lágrima é dor Nem toda graça é sorriso Nem toda curva da vida Tem uma placa de aviso E nem sempre o que você perde É de fato um prejuízo
O meu ou o seu caminho Não são muito diferentes Tem espinho, pedra, buraco Pra mode atrasar a gente
Mas não desanime por nada Pois até uma topada Empurra você pra frente
Tantas vezes parece que é o fim Mas no fundo, é só um recomeço Afinal, pra poder se levantar É preciso sofrer algum tropeço
É a vida insistindo em nos cobrar Uma conta difícil de pagar Quase sempre, por ter um alto preço
Acredite no poder da palavra desistir Tire o D, coloque o R Que você tem Resistir
Uma pequena mudança Às vezes traz esperança E faz a gente seguir
Continue sendo forte Tenha fé no Criador Fé também em você mesmo Não tenha medo da dor
Siga em frente a caminhada E saiba que a cruz mais pesada O filho de Deus carregou
“Nem toda lágrima é dor, nem toda graça é sorriso, nem toda curva da vida tem uma placa de aviso, nem sempre que você perde é de fato um prejuízo.”
AMOR IDEAL
Repare, que tanta gente no mundo Corre em busca de um amor Alguém que seja ideal Aquela altura Aquela cor Aquele extrato bancário Aquele belo salário
A quem ligue para a idade Para raça, religião Mas quem busca perfeição Não busca amor de verdade
O ideal é amar Inclusive o diferente Afinal, que graça tem Amar uma cópia da gente?
Procure sem ter critérios O amor tem seus mistérios E deixa a gente atordoado Você sai para procurar E ao invés de achar Acaba sendo achado
E quando o amor lhe acha Não tem para onde correr Finda logo essa besteira De mil coisas para escolher
Finda todo preconceito É como se no seu peito Coubesse o mundo inteiro Com todo tipo de gente E aceita que o diferente É só alguém verdadeiro
Percebe que a estrada é repleta de amor E você, nessa jornada, Vai sorrir, vai sentir dor Vai errar e acertar Na peleja para encontrar Um sentimento real
E uma dica, companheiro Se o amor for verdadeiro, Já é o AMOR IDEAL.
“Acredite no poder da palavra “Desistir” tire o D coloque o R que você vai Resistir. Uma pequena mudança às vezes traz esperança e faz a gente seguir.”