Foi realizada neste dia 01 de março, uma sessão Solene no plenário do Senado Federal, para lembrar os 100 anos de falecimento do grande e inesquecível, nordestino (baiano, diga-se de passagem) Ruy Barbosa (baluarte da justiça, dos valores da advocacia, do jornalismo, da diplomacia e da política).
O evento contou com a presença do Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, da Presidente do STF, Rosa Weber, do Presidente da OAB Nacional, Beto Simonetti e do ex-presidente do Brasil e membro da Academia de Letras, José Sarney, entre outros.
Eu, Leandro Flores, tive o prazer de comparecer também a este evento e pude somar votos, junto com tantos outros advogados e jornalistas a esse tão nobre e intelectual brasileiro.
Ruy Barbosa atuou na defesa do federalismo, da democracia, do abolicionismo e na promoção dos direitos e garantias individuais, sendo um dos principais organizadores e coautor da constituição da Primeira República.
Ryu Barbosa foi o primeiro ministro da Fazenda no período republicano. Foi deputado, senador, além de membro e presidente da Academia brasileira de Letras e candidato (inúmeras vezes) à presidência da República.
Ruy era colega de faculdade e amigo pessoal do poeta Castro Alves, inclusive dando-lhe abrigo e apoio moral quando este terminou o relacionamento com a atriz e poetisa Eugênia Câmara. Também foi um grande defensor das causas absabolicionistas, juntamente com Castro e José Bonifácio (o seu professor na faculdade de Direito).
Apesar de ser considerado um dos pais do republicanismo no Brasil, Ruy, em seus últimos momentos de vida, passou a criticar ferozmente o sistema, sendo umas das suas frases mais notáveis, uma critica a república que ajudou a fundar. Dizia ele: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto. Essa foi a obra da República nos últimos anos.”
Viva então Ryu Barbosa, viva os grandes e incomparáveis gênios brasileiros, viva o nordeste, viva o sertão, viva a Bahia!
Anualmente, o Dia do Poeta é comemorado em 20 de outubro.
Esta data celebra uma justa e inequívoca homenagem a esse ser fabuloso que nos traduz a vida. Que usa de sua criatividade, inspiração e talento para descrever os sentimentos, a natureza, os comportamentos humanos e as danações do tempo.
O objetivo principal desta data comemorativa é incentivar a leitura, a escrita e a produção de obras nacionais. Sabe-se que o setor artístico-literário é um campo restrito, com pouco ou quase nenhum investimento público, sobretudo para aqueles pequenos e médios escritores (poetas, romancistas, contistas, etc) que muitas vezes, precisam arcar de maneira desproporcional com a sua publicação (A Editora NS PUBLICAÇÕES tem incentivos, descontos especiais, orientações, para escritores que desejam publicar pela primeira vez). Saiba mais.
O Brasil tem produzido, ao longo destes séculos, centenas de poetas/escritores que são lidos e admirados em todo mundo, a exemplo de Machado de Assis, Castro Alves, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Milton Hatoum, Chico Buarque, Carlos Drummond de Andrade, entre outros.
Origem do Dia do Poeta
O Dia Nacional do Poeta é uma comemoração extraoficial, ou seja, não faz parte institucionalmente do calendário oficial brasileiro.
Porém, a data foi escolhida, a partir do surgimento em 20 de outubro de 1976, em São Paulo, do Movimento Poético Nacional, que aconteceu na casa do jornalista, romancista, advogado e pintor brasileiro Paulo Menotti Del Picchia.
A data homenageia e lembra este momento.
Curiosidades sobre o Dia da Poesia
– O Dia Nacional da Poesia, é comemorado oficialmente em 31 de outubro, através da lei 13.131, de 3 de janeiro de 2015. A escolha desta data é uma homenagem ao nascimento do poeta Carlos Drummond de Andrade.
– Antes da criação da lei, porém, o Dia Nacional da Poesia era celebrado em 14 de março, de forma não-oficial, era uma homenagem ao poeta brasileiro, Castro Alves, que nasceu em 14 de março de 1847.
– Já o Dia Mundial da Poesia é celebrado em 21 de março. A data foi criada durante a XXX Conferência Geral da UNESCO, em 16 de novembro de 1999.
Alguns poemas e frases de poetas clássicos e modernos para homenagear este momento
Oh! Bendito o que semeia
Livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro, caindo n’alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar!
“Palavra puxa palavra,
uma ideia traz outra,
e assim se faz um livro,
um governo, ou uma revolução,
alguns dizem mesmo que assim
é que a natureza compôs as suas espécies.”
MACHADO DE ASSIS. Volume de contos. Rio de Janeiro : Garnier, 1884.
Quando eu morder
a palavra,
por favor,
não me apressem,
quero mascar,
rasgar entre os dentes,
a pele, os ossos, o tutano
do verbo,
para assim versejar
o âmago das coisas.
CONCEIÇÃO EVARISTO, “Poemas da recordação e outros movimentos”. Belo Horizonte: Nandyala, 2008.
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
ADÉLIA PRADO, Bagagem. São Paulo: Siciliano. 1993. p. 11.
SER POETA…
Ser poeta é traduzir em palavras
O que sente, às vezes sem sentir.
É viver a dor de alguém
Em um instante que nem sempre dói em si.
O poeta fala tanto de amor que esquece de se apaixonar.
Traduz os sentimentos com tal veracidade
Que acredita realmente amar.
Ser poeta é viver duas vezes,
Uma para morrer, outra para se eternizar.
LEANDRO FLORES, Sorriso de Pedra – A outra face de um poeta, Belo Horizonte, Agilite Publicações e Interatividade, 2014, p. 110.
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O site Cultura Genial listou “os 15 maiores poemas de amor da literatura brasileira”, em uma seleção que envolve os maiores nomes da nossa literatura, Vinícius de Moraes, Adelia Prado, Mario Quintana, Cora Coralina, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, entre outros!
Confira aí, se gostar, compartilhe entre seus amigos e amores!
1. Soneto do amor total, de Vinícius de Moraes
Pesquisar os livros do poetinha, como ficou conhecido Vinícius de Moraes, é se deparar com um manancial de poemas de amor. Apaixonado pela vida e pelas mulheres, Vinícius casou-se nove vezes e escreveu uma série de versos apaixonados. O poema mais conhecido talvez seja o Soneto de fidelidade.
O Soneto do amor total foi escolhido porque tem uma delicadeza ímpar e ilustra com precisão as várias facetas de uma relação amorosa.
Soneto do amor total
Amo-te tanto, meu amor… não cante O humano coração com mais verdade… Amo-te como amigo e como amante Numa sempre diversa realidade
Amo-te afim, de um calmo amor prestante, E te amo além, presente na saudade. Amo-te, enfim, com grande liberdade Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente, De um amor sem mistério e sem virtude Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim muito e amiúde, É que um dia em teu corpo de repente Hei de morrer de amar mais do que pude.
2. Tenta-me de novo, de Hilda Hilst
Hilda Hilst também é um nome incontornável quando se pensa em amor na poesia brasileira. A escritora paulista escreveu versos que vão desde a escrita erótica até a lírica idealizada.
Quando se pensa em poesia de amor, o mais frequente é que se imagine versos de uma relação jovem. Tenta-me de novo é um dos raros poemas que trata de um amor que já acabou e de um amante que deseja conquistar o afeto de volta.
Tenta-me de novo
E por que haverias de querer minha alma Na tua cama? Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas Obscenas, porque era assim que gostávamos. Mas não menti gozo prazer lascívia Nem omiti que a alma está além, buscando Aquele Outro. E te repito: por que haverias De querer minha alma na tua cama? Jubila-te da memória de coitos e acertos. Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
3. Canção, de Cecília Meireles
Em apenas quinze versos, Cecília Meireles consegue compor na sua Canção uma ode à urgência do amor. Singelo e direto, os versos convocam o retorno do amado. O poema, presente no livro Retrato natural (1949), também conjuga elementos recorrentes na lírica da poetisa: a finitude do tempo, a transitoriedade do amor, o movimento do vento.
Canção
Não te fies do tempo nem da eternidade, que as nuvens me puxam pelos vestidos que os ventos me arrastam contra o meu desejo! Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã morro e não te vejo! Não demores tão longe, em lugar tão secreto, nácar de silêncio que o mar comprime, o lábio, limite do instante absoluto! Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã eu morro e não te escuto! Aparece-me agora, que ainda reconheço a anêmona aberta na tua face e em redor dos muros o vento inimigo… Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã eu morro e não te digo…
4. As sem-razões do amor, de Carlos Drummond de Andrade
Celebrado como um dos melhores poemas da literatura brasileira, As sem-razões do amor trata da espontaneidade do amor. De acordo com o eu lírico, o amor arrebata e arrasta o amador independente da atitude do parceiro. O próprio título do poema já indica como os versos irão se desdobrar: o amor não exige troca, não é resultado do merecimento e não pode ser definido.
As sem-razões do amor
Eu te amo porque te amo. Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo. Amor é estado de graça e com amor não se paga.
Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo bastante ou de mais a mim. Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor.
O poema de amor provavelmente mais citado de Bilac é Via Láctea, um clássico aprendido nos tempos de escola. Os versos abaixo, no entanto, apesar de pouco conhecidos, são também uma obra prima do autor. O poeta, que atuou como jornalista, foi um dos maiores representantes do movimento Parnasiano no Brasil e a sua lírica é marcada pela metrificação e pela representação de um sentimento idealizado.
XXX
Ao coração que sofre, separado Do teu, no exílio em que a chorar me vejo, Não basta o afeto simples e sagrado Com que das desventuras me protejo. Não me basta saber que sou amado, Nem só desejo o teu amor: desejo Ter nos braços teu corpo delicado, Ter na boca a doçura de teu beijo. E as justas ambições que me consomem Não me envergonham: pois maior baixeza Não há que a terra pelo céu trocar; E mais eleva o coração de um homem Ser de homem sempre e, na maior pureza, Ficar na terra e humanamente amar.
6. Futuros amantes, de Chico Buarque
O mais conhecido letrista brasileiro tem uma série de versos dedicados ao amor. São tantos que é até criminoso selecionar apenas um poema do manancial de belezas já escritas. No entanto, diante do desafio, escolhemos Futuros amantes, um daqueles clássicos que nunca perde a validade.
Futuros amantes
Não se afobe, não Que nada é pra já O amor não tem pressa Ele pode esperar em silêncio Num fundo de armário Na posta-restante Milênios, milênios No ar
E quem sabe, então O Rio será Alguma cidade submersa Os escafandristas virão Explorar sua casa Seu quarto, suas coisas Sua alma, desvãos
Sábios em vão Tentarão decifrar O eco de antigas palavras Fragmentos de cartas, poemas Mentiras, retratos Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não Que nada é pra já Amores serão sempre amáveis Futuros amantes, quiçá Se amarão sem saber Com o amor que eu um dia Deixei pra você
Singelo e cotidiano, Meu destino, da goiana Cora Coralina, merece elogios pela maneira simples e sutil com que relata o encontro amoroso. A poetisa, com a delicadeza dos versos que compõe, faz parecer fácil construir uma relação de afeto duradoura. Meu destino conta uma pequena fábula: a história de duas pessoas que se conheceram e resolvem construir uma relação.
Meu destino
Nas palmas de tuas mãos leio as linhas da minha vida. Linhas cruzadas, sinuosas, interferindo no teu destino. Não te procurei, não me procurastes – íamos sozinhos por estradas diferentes. Indiferentes, cruzamos Passavas com o fardo da vida… Corri ao teu encontro. Sorri. Falamos. Esse dia foi marcado com a pedra branca da cabeça de um peixe. E, desde então, caminhamos juntos pela vida…
Teresa é um dos poemas mais marcantes do modernismo brasileiro, todos nós, provavelmente, fomos apresentados a esses versos ainda na escola.
Teresa consta nessa lista porque é um dos poucos poemas de amor capaz de conter traços de humor. A comicidade de Bandeira surge com a descrição da reação durante o primeiro encontro do casal. Os versos depois se encarregam de mostrar como o relacionamento se transforma e a percepção em relação a amada muda.
Teresa
A primeira vez que vi Teresa Achei que ela tinha pernas estúpidas Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo (Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada Os céus se misturaram com a terra E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
9. Bilhete, de Mario Quintana
A delicadeza do poema de Mário Quintana começa já no título: Bilhete anuncia um tipo de recado direto, apenas partilhado entre os amantes. Os versos fazem uma elegia ao amor discreto, sem grandes alardes, partilhado unicamente entre os apaixonados.
Bilhete
Se tu me amas, ama-me baixinho Não o grites de cima dos telhados Deixa em paz os passarinhos Deixa em paz a mim! Se me queres, enfim, tem de ser bem devagarinho, Amada, que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…
10. Amar você é coisa de minutos…, de Paulo Leminski
Os versos livres de Leminski são direcionados diretamente à amada e seguem o tom de uma conversa. Apesar de ser um poema contemporâneo, os versos parecem anacrônicos porque prometem uma fidelidade total e absoluta seguindo os moldes do amor romântico.
Amar você é coisa de minutos…
Amar você é coisa de minutos A morte é menos que teu beijo Tão bom ser teu que sou Eu a teus pés derramado Pouco resta do que fui De ti depende ser bom ou ruim Serei o que achares conveniente Serei para ti mais que um cão Uma sombra que te aquece Um deus que não esquece Um servo que não diz não Morto teu pai serei teu irmão Direi os versos que quiseres Esquecerei todas as mulheres Serei tanto e tudo e todos Vais ter nojo de eu ser isso E estarei a teu serviço Enquanto durar meu corpo Enquanto me correr nas veias O rio vermelho que se inflama Ao ver teu rosto feito tocha Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha Sim, eu estarei aqui
Amor, de Álvares de Azevedo, é um clássico poema da geração romântica brasileira. Seus versos ilustram uma época e uma postura de devoção, quase idealizada, entre um homem apaixonado e uma mulher que é basicamente contemplada.
Embora o poema seja, de certa forma, o retrato de uma época, os versos são tão bem compostos que transcendem o tempo.
Amor
Amemos! Quero de amor Viver no teu coração! Sofrer e amar essa dor Que desmaia de paixão! Na tu’alma, em teus encantos E na tua palidez E nos teus ardentes prantos Suspirar de languidez! Quero em teus lábio beber Os teus amores do céu, Quero em teu seio morrer No enlevo do seio teu! Quero viver d’esperança, Quero tremer e sentir! Na tua cheirosa trança Quero sonhar e dormir! Vem, anjo, minha donzela, Minha’alma, meu coração! Que noite, que noite bela! Como é doce a viração! E entre os suspiros do vento Da noite ao mole frescor, Quero viver um momento, Morrer contigo de amor!
12. Cantiga para não morrer, de Ferreira Gullar
Um dos maiores poetas da literatura brasileira, Ferreira Gullar, ficou mais conhecido por seus versos políticos e de cunho social. No entanto, também é possível encontrar em sua poética trabalhos dedicados ao amor, pérolas pontuais como Cantiga para não morrer. Apesar de ser um autor contemporâneo, Gullar usa alguns traços românticos em seu poema.
O afeto pela amada é tão grande e transbordante que o eu lírico pede que ele permaneça com ela em seu pensamento, mesmo que sob a forma de esquecimento.
Cantiga para não morrer
Quando você for se embora, moça branca como a neve, me leve.
Se acaso você não possa me carregar pela mão, menina branca de neve, me leve no coração.
Se no coração não possa por acaso me levar, moça de sonho e de neve, me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa por tanta coisa que leve já viva em seu pensamento, menina branca de neve, me leve no esquecimento.
13. Casamento, de Adélia Prado
Os versos de Adélia Prado celebram o casamento, as relações cotidianas e de longo prazo. Contado quase como uma espécie de historinha, o poema mostra detalhes da intimidade da vida a dois e os pequenos afetos que se escondem na rotina do par. Chama a atenção do leitor a beleza com que é realçada a cumplicidade do casal.
Casamento
Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como ‘este foi difícil’ ‘prateou no ar dando rabanadas’ e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva.
14. Beijo eterno, de Castro Alves
O poema abaixo é um dos mais importantes exemplares da poesia romântica brasileira. Castro Alves pinta em sua lírica um amor pleno, idealizado e eterno. No entanto, como pertence à terceira fase do Romantismo, Castro Alves já inclui em seus versos alguma sensualidade relacionada à amada.
Beijo eterno
Quero um beijo sem fim, Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo! Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo, Beija-me assim! O ouvido fecha ao rumor Do mundo, e beija-me, querida! Vive só para mim, só para a minha vida, Só para o meu amor!
Fora, repouse em paz Dormindo em calmo sono a calma natureza, Ou se debata, das tormentas presa, Beija inda mais! E, enquanto o brando calor Sinto em meu peito de teu seio, Nossas bocas febris se unam com o mesmo anseio, Com o mesmo ardente amor!
Diz tua boca: “Vem!” Inda mais! diz a minha, a soluçar… Exclama Todo o meu corpo que o teu corpo chama: “Morde também!” Ai! morde! que doce é a dor Que me entra as carnes, e as tortura! Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura, Morto por teu amor!
Quero um beijo sem fim, Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo! Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo! Beija-me assim! O ouvido fecha ao rumor Do mundo, e beija-me, querida! Vive só para mim, só para a minha vida, Só para o meu amor!
O navio negreiro é outro grande poema de autoria de Castro Alves que merece ser conhecido.
15. O amor comeu meu nome, de João Cabral de Melo Neto
O poema abaixo é um dos mais belos monumentos ao amor presente na literatura brasileira. João Cabral de Melo Neto consegue descrever com precisão, em algumas linhas, como é estar apaixonado, como o sentimento de amor se apossa do sujeito e se alastra na vida cotidiana.
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome. O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos. O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina. O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos. Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina. O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água. O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome. O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel. O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso. O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala. O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
Fonte: Cultura Genial
Escrito por: Rebeca Fuks – Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).
Obs. Não conseguimos identificar a autoria das imagens
Quem escreve acredita Na força da escrita. Concepção de escritor, É reflexo sonhador.
Talento de expressar, Toda forma de sentimento Infinito como o mar… Dá sentido até o vento.
Nesta nostalgia, Tudo que é utopia Se torna um grande ideal, Em cada traço intelectual.
E neste cenário, Põe-se essência e vigor… Transforme o imaginário, Numa forma de amor.
Escrever é dádiva holística, É sonhar e ser otimista… Em cada palavra, Um novo ser desbrava…
Com força de vitória, Pelas letras apaixonado, Busca fazer história Em cada traço rabiscado.
Um coração entre tintas e pincel Pulsando amor entre o lápis e o papel. É o escritor com sua virtude A escrever magnitude.
Saudações a todos escritores, pela brilhante arte de se expressarr!
25 de julho, dia do escritor.
Edson Silveira.
Edson é integrante do Movimento Cultivista Café com Poemas.
Natural de Condeúba- Bahia, Edson Pereira Silveira é um amante da arte e da poesia, em 2016 publicou seu livro: ” Memórias de Um Sonhador”. É integrante do Movimento Cultivista Café com Poemas. Com adesão à OFHM- Ordem Federativa de Honra ao Mérito, conquistou o Prêmio Cultivador da Cultura( Poeta Nacional). Participou de várias Antologias, dentre elas estão as Antologias Café com poemas, vol. I e vol.II.
Rubem Alves (1933-2014) foi teólogo, educador, tradutor, psicanalista e escritor brasileiro. Autor de livros de filosofia, teologia, psicologia e de histórias infantis.
Rubem Alves nasceu na cidade de Boa Esperança, em Minas Gerais, no dia 15 de setembro de 1933. Em 1945 muda-se com a família para o Rio de Janeiro. Criado em uma família protestante, tornou-se pastor.
Formação
Entre 1953 e 1957 cursou Teologia no Seminário Presbiteriano de Campinas, São Paulo. Em 1958 mudou-se para a cidade de Lavras, Minas Gerais, onde exerceu a função de pastor até 1963.
Ainda em 1963, Rubem Alves foi estudar em Nova York, retornando em 1964, com o título de Mestre em Teologia, pela Union Theological Seminary.
O Teólogo
Em 1968, perseguido pelo regime militar, acusado de subversivo, Rubem Alves, a mulher e os filhos seguiram para os Estados Unidos, onde no Seminário Teológico de Princeton, escreveu sua tese de doutorado: “Por Uma Teologia da libertação”.
Rubem foi o primeiro a usar essa expressão, baseada em uma corrente de pensamento, defendida por teólogos protestantes e católicos, que afirmava que Deus e a Bíblia tinha preferência pelos pobres e que, as religiões deveriam se posicionar ao lado dos oprimidos.
A tese foi transformada em livro, publicado nos Estados Unidos, com o título de “Teologia da Esperança Humana”, por sugestão do editor.
Essa corrente ganhou força nas décadas de 70 e 80. O livro só pode ser editado no Brasil depois da ditadura militar, em 1987. Com o título “Da Esperança”. A publicação com o título original “Por Uma Teologia da Libertação” só saiu no Brasil em 2012.
Sua posição liberal trouxe sérios problemas no seu relacionamento com o protestantismo histórico e especialmente com o presbiterianismo. De volta ao Brasil, magoado com seus companheiros pastores, que desconfiavam de suas ideias, se viu obrigado a abandonar o pastorado.
Rubem Alves rompeu com a Igreja Presbiteriana do Brasil em 1970, e afirmou:
“Sempre entendi que o Evangelho é um chamado à liberdade. Não encontro a liberdade na Igreja Presbiteriana do Brasil. É hora, portanto, de buscar a comunhão do Espírito fora dela”.
Professor
De volta ao Brasil, nos anos 70, Rubem Alves passou a lecionar filosofia na Universidade de Campinas (Unicamp). Ocupou diversos cargos, entre eles, o de Diretor da Assessoria Especial para Assuntos de Ensino, de 1983 a 1985.
Psicanalista
Nos anos 80, tornou-se psicanalista através da Sociedade Paulista de Psicanálise. Passou a escrever nos grandes jornais sobre comportamento e psicologia.
Rubem Alves, depois de aposentado, investiu seu tempo em um restaurante para exercer seu gosto pela gastronomia. O local era também usado para eventos culturais que envolviam cinema, pintura e literatura.
Rubem Alves é autor de 120 títulos, de assuntos variadíssimos – de pedagogia a literatura infantil, passando pela filosofia e culinária.
Outras Obras de Rubem Alves
O Que é Religião? (filosofia e religião)
A Volta do Pássaro Encantado
O Patinho que não Aprendeu a Voar (livro infantil)
Variações Sobre a Vida e a Morte (teologia)
Filosofia da Ciência (filosofia e conhecimento científico).
Rubem Alves faleceu em Campinas, São Paulo, no dia 19 de julho de 2014.
Frases de Rubem Alves
Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses.
A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar.
A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente.
Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.
Aprenda a gostar, mas gostar mesmo, das coisas que deve fazer e das pessoas que o cercam. Em pouco tempo descobrirá que a vida é muito boa e que você é uma pessoa querida por todos.
Aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas, porque a gente não esquece. O que a memória ama fica eterno.
O tempo pode ser medido com as batidas de um relógio ou pode ser medido com as batidas do coração.
A Academia Brasileira de Letras tem a tradição de imortalizar diversos escritores e poetas, mas alguns deles foram “esquecidos” ao longo do tempo, ou até mesmo injustiçados, como Mário Quintana, indicado três vezes sem sucesso. Má Dias, do site Litera Tortura, elegeu cinco casos de escritores que, por alguma razão, não ganharam assento na Academia
Mário Quintana Mário Quintana é o poeta simples, o poeta da ironia, o poeta do cotidiano. Tentou uma vaga na Academia três vezes, mas nunca conseguiu votos suficientes para tanto. Quando seu nome foi “indicado”, pela quarta vez, recebendo uma promessa de unanimidade de votos do júri, Quintana recusou e disse: “Só atrapalha a criatividade. O camarada lá vive sob pressões para dar voto, discurso para celebridades. É pena que a casa fundada por Machado de Assis esteja hoje tão politizada. Só dá ministro”. Com cadeira ou sem cadeira, Mário Quintana “passarinhou”: é imortal de qualquer jeito.
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Carlos Drummond de Andrade Responsável pelo choque da elite artística e literária ao escrever uma poesia sobre uma pedra no meio do caminho, Drummond viveu o movimento modernista sem nunca confirmar-se modernista. Autor de uma vasta obra poética, não entrou para a Academia Brasileira de Letras por um motivo especial: não quis se candidatar.
Clarice Lispector Clarice Lispector também fez a fina e não entrou na dança: nunca se candidatou a uma cadeira na Academia. Autora de “A Hora da Estrela” e “Laços de Família”, Clarice era proseadora e pode não ter uma cadeira na ABL, mas na contemporaneidade é “musa” da citação nas redes sociais.
Graciliano Ramos A comoção é geral: quem nunca se emocionou com a história da cachorra Baleia e a família com quem vive na seca do sertão nordestino é porque ainda não leu “Vidas Secas”, clássico da literatura brasileira. Graciliano Ramos é considerado um dos melhores escritores brasileiros de regionalismo de todos os tempos; mas isso, injustamente, não lhe rendeu uma cadeira na ABL.
Paulo Leminski O poeta é um dos mais inovadores, tanto no âmbito da linguagem como na maneira de disseminar sua obra. O curitibano dava preferência aos poemas curtos e não se dava muito aos floreios da literatura. Há pouquíssima informação sobre sua relação com a ABL, a qual, aparentemente, ele ignorou e não foi nem convidado, nem candidato.
Paulo Leminski, o Rimbaud curitibano, teve uma vida de paixões, poesia e idealismos. Morreu no dia 07 de junho de 1989, aos 44 anos, vítima de cirrose, e deixou um legado de lirismo e algumas polêmicas.
Em 1963, abandonou o Mosteiro, e nesse mesmo ano foi para Belo Horizonte onde participou da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, quando conheceu Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos, criadores da Poesia Concreta. Em 1964, publica seu primeiro poema na revista “Invenção”, editada pelos concretistas. Nesse mesmo ano, assume o cargo de professor de História e Redação em cursinhos pré-vestibulares.
Em 1976, Paulo Leminski publicou seu primeiro romance “Catatau”, obra “Maldita”, em que o experimentalismo atinge níveis pouco usuais, classificada pelo autor como mero romance ideia. Nessa época, trabalha como diretor e redator de publicidade. Publica seus textos em revistas alternativas, antológicas do tempo marginal, como “Muda”, “Código” e “Qorpo Estranho”, segundo ele mesmo, publicações que consagraram grande parte da produção dos anos 70.
Paulo Leminski tornou-se um dos mais destacados poetas brasileiros da segunda metade do século XX. Inventou seu próprio jeito de escrever poesias, fazendo trocadilhos ou brincando com ditados populares: “sorte no jogo / azar no amor / de que me serve / sorte no amor / se o amor é um jogo / e o jogo não é meu forte, / meu amor?”.
Leminski era fascinado pela cultura japonesa e pelo zen-budismo, era faixa preta de caratê. Escreveu a biografia de Matsuo Bashô, e dentro do território livre da poesia marginal escreveu poemas à moda de um grafiti, com sabor de haicai. Ele escreveu também letras de músicas em parcerias com Caetano Veloso, Itamar Assumpção e o grupo A Cor do Som. Exerceu intensa atividade como crítico literário e tradutor, vertendo para o português as obras de James Joyce, Alfred Jarry, Samuel Beckett e Yukio Mishima. Viveu durante 20 anos com a poetisa Alice Ruiz, que organizou sua obra.
Paulo Leminski faleceu em Curitiba, Paraná, no dia 7 de junho de 1989.
Tripas de Leminski
Além da bibliografia oficial do poeta, é possível encontrar na internet algumas menções a uma edição independente de 1980, chamada Tripas. O problema é que ninguém sabe ou confirma a existência desta obra, apesar dela constar até na página do poeta na Wikipedia. Há quem diga que se trata de uma lenda urbana, corroborada por alguns blogueiros com estranho senso de humor. Nem a poetiza Alice Ruiz, que viveu muitos anos com o escritor, menciona a existência deste livro. Se ninguém confirma, não deve existir, não é? O problema é que Tripas não é um caso isolado. Catatau, durante muitos anos, também foi tratado como um mito, até ganhar uma reedição pela Editora Iluminuras. E você, acredita na existência de Tripas?
O concurso que Leminski ganhou, mas não levou
Quando ainda era professor de história em cursinhos nos anos 60, Leminski entrou num concurso de contos em Curitiba. Para manter sua identidade em segredo, usou o pseudônimo “Kung”. Quando o resultado saiu, o vencedor anunciado foi um cidadão chamado “Kurt”. Vinte anos depois, um dos jurados reconheceu que tinha sido um erro tipográfico e que Kung – ou melhor, Leminski – deveria ter levado o prêmio. O poeta ficou tão indignado que escreveu a obra Descartes com lentes, satirizando o equívoco.
O livro proibido I
Entre livros esquecidos e controversos, as biografias do poeta também provocam sua dose de polêmica. Paulo Leminski: o bandido que sabia latim, de Toninho Vaz, passou por diversos problemas com a família de Leminski, que vetou a quarta edição, publicada pela Editora Nova Cultura. O motivo, segundo os familiares, foi o autor ter escrito um parágrafo sobre suicídio do irmão, Pedro, em 1986. Por que a biografia de uma personalidade pública não deveria mencionar tragédias pessoais, ou por que isso só se tornou um problema na quarta edição, são algumas das questões não resolvidas deste processo.
O livro proibido II
Toninho Vaz não está sozinho na mira da família Leminski. Minhas lembranças de Leminski, de Domingos Pellegrini, vencedor de seis prêmios Jabuti e autor de mais de 30 obras, também não recebeu a autorização dos herdeiros, o que inviabilizava a publicação pelas vias tradicionais, uma vez que as editoras tendem a evitar que seus livros sejam recolhidos das livrarias por ordem judicial. O autor resolveu ignorar os avisos e publicou o livro de graça na internet, para quem quisesse ler, bem ao estilo da contracultura defendida pelo próprio Leminski. Contudo, essa história tem um final feliz: a Geração Editorial resolveu ignorar a polêmica e o relançou alguns anos depois.
Paulo Leminski foi corajoso o bastante para se equilibrar entre duas enormes construções que rivalizavam na década de 1970, quando publicava seus primeiros versos: a poesia concreta, de feição mais erudita e superinformada, e a lírica que florescia entre os jovens de vinte e poucos anos da chamada “geração mimeógrafo”. Este volume percorre, pela primeira vez, a trajetória poética completa do autor curitibano, mestre do verso lapidar e da astúcia.
Sob o olhar poético e apaixonado de um admirador, essas quatro trajetórias aparentemente desconexas ganham novas dimensões, criam elos e se complementam, em comunicação permanente com a vida e a obra de seu biógrafo. Trótski é visto como um homem de letras, autor do “mais extraordinário livro sobre literatura” já escrito por um político. Cruz e Sousa é personagem central de um movimento que Leminski chama de “underground” e que muito o influenciaria: o simbolismo. Bashô, antes de se tornar pai do haikai, foi membro da classe samurai. E Jesus é um “superpoeta”. Enquanto traz à tona lados surpreendentes de quatro de seus heróis, Leminski revela muito de si mesmo, tão múltiplo e fascinante quanto os biografados, e fornece a seus fãs, em narrativas aliciantes e cheias de estilo, uma gênese de suas principais influências.
O livro é dividido em três capítulos: o primeiro leva o mesmo nome do livro e inclui grande parte dos poemas da edição, principalmente os metapoemas, ou seja, poemas em que a temática é o próprio poema. No segundo, o autor apresenta versos de vida, de espaço e de tempo, falando sobre as coisas que sobrevoaram o ar dos seus dias, que se misturaram à poeira do chão de sua casa. Na última parte, o poeta apresenta uma série de haicais.
Graciliano Ramos (1892-1953) foi um escritor brasileiro. O romance “Vidas Secas” foi sua obra de maior destaque. É considerado o melhor ficcionista do Modernismo e o prosador mais importante da Segunda Fase do Modernismo.
Suas obras embora tratem de problemas sociais do Nordeste brasileiro, apresentam uma visão crítica das relações humanas, que as tornam de interesse universal.
Seus livros foram traduzidos para vários países e Vidas Secas, São Bernardo e Memórias do Cárcere, foram levados para o cinema. Recebeu o Prêmio da Fundação William Faulkner, dos Estados Unidos, pela obra “Vidas Secas”.
Infância e Juventude
Graciliano Ramos nasceu na cidade de Quebrângulo, Alagoas, no dia 27 de outubro de 1892. Filho de Sebastião Ramos de Oliveira e Maria Amélia Ferro Ramos era o primogênito de quinze filhos, de uma família de classe média do Sertão nordestino.
Passou parte de sua infância na cidade de Buíque, em Pernambuco, e parte em Viçosa, Alagoas, onde estudou no internato da cidade.
Em 1904 publicou no jornal da escola seu primeiro conto O Pequeno Pedinte. Em 1905 mudou-se para Maceió, onde fez seus estudos secundários no Colégio Interno Quinze de Março, onde desenvolveu maior interesse pela língua e pela literatura.
Em 1910 foi com a família morar em Palmeira dos Índios, Alagoas, onde seu pai abriu um pequeno comércio. Em 1914 foi para o Rio de Janeiro, quando trabalhou como revisor dos jornais Correio da Manhã, A Tarde e em O Século.
Voltou para a cidade de Palmeira dos Índios, onde duas irmãs haviam falecido de peste bubônica, em 1915. Trabalhou com o pai no comércio. No ano seguinte, casou-se com Maria Augusta Barros, com quem teve quatro filhos.
Cargos públicos
Em 1928, Graciliano Ramos foi eleito prefeito da cidade de Palmeira dos Índios. Nesse mesmo ano, já viúvo, casou-se com Heloísa de Medeiros, com quem teve quatro filhos.
Em 1930, deixou a prefeitura e mudou-se para Maceió, onde assumiu a direção da Imprensa Oficial e da Instrução Pública do Estado.
Primeiras obras
Graciliano Ramos estreou na literatura em 1933 com o romance Caetés. Nessa época mantinha contato com José Lins do Rego, Raquel de Queiroz e Jorge Amado. Em 1934 publicou o romance São Bernardo, e em 1936 publicou Angústia.
Nesse mesmo ano, ainda no cargo de Diretor da Imprensa Oficial e da Instrução Pública do Estado, foi preso, sob a acusação de que era comunista. Ficou nove meses na prisão, sendo solto, pois não encontraram provas.
Em 1937, Graciliano Ramos mudou-se para o Rio de Janeiro. Foi morar em um quarto de pensão com a esposa e as filhas menores. Em 1939 foi nomeado Inspetor Federal de Ensino. Em 1945 ingressou no Partido Comunista.
Em 1951 foi eleito presidente da Associação Brasileira de Escritores. Em 1952 viajou para os países socialistas do Leste Europeu, experiência descrita na obra Viagem, publicada em 1954, após sua morte.
Características da obra de Graciliano Ramos
Graciliano é considerado o mais importante ficcionista do Modernismo, fez parte do grupo de escritores que inaugurou o realismo crítico, representando os problemas brasileiros em geral ou específicos de determinada região.
Trata-se de uma literatura que traz para a reflexão problemas sociais marcantes do momento em que os romances foram escritos. Literatura destinada a provocar a conscientização, o romance regionalista tem como lema criticar para denunciar uma questão social.
A preocupação com a linguagem é o traço peculiar do escritor. O interesse de sua narrativa está centrado na problemática do homem. O interesse está diretamente voltado para o comportamento, atitudes e conduta humana, e a descrição da paisagem nasce da própria caracterização psicológica dos personagens:
Vidas Secas (1938) é considerada a obra-prima de Graciliano Ramos. Narra a história de uma família de retirantes nordestinos, que atingida pela seca é obrigada a perambular pelo sertão, em busca de melhores condições de vida. A obra pretende mostrar a tirania da terra cruel, atuando sobre o homem.
Graciliano Ramos escreve também obras autobiográficas, onde reúne acontecimentos e cenas selecionadas pela memória, revestidas de extrema subjetividade. Nessa linha destacam-se Infância (1945) e Memórias do Cárcere (1953), onde o autor retrata as experiências dolorosas de sua vida durante os nove meses em que esteve preso.
Graciliano Ramos faleceu no Rio de Janeiro, no dia 20 de março de 1953.
Clarice Lispector foi uma das mais destacadas escritoras da terceira fase do modernismo brasileiro, chamada de “Geração de 45”.
Recebeu diversos prêmios dentre eles o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal e o Prêmio Graça Aranha.
Biografia de Clarice Lispector
Haya Pinkhasovna Lispector nasceu no dia 10 de dezembro de 1920 na cidade ucraniana de Tchetchelnik.
Descendente de judeus, seus pais Pinkhas Lispector e Mania Krimgold Lispector, passaram os primeiros momentos de vida de Clarice fugindo da perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa (1918-1920).
Diante disso, chegam ao Brasil em 1921 e vivem nas cidades de Maceió, Recife e Rio de Janeiro onde passaram algumas dificuldades financeiras.
Desde pequena, Clarice estudou várias línguas (português, francês, hebraico, inglês, iídiche) e teve aulas de piano. Era boa aluna na escola e gostava de escrever poemas.
Após a morte de sua mãe em 1930, Clarice termina o terceiro ano primário no Collegio Hebreo-Idisch-Brasileiro.
Mais tarde, sua família vai viver no Rio de Janeiro. Em 1939, com 19 anos, ingressa na Escola de Direito da Universidade do Brasil e começa a dedicar-se totalmente à sua grande paixão: a literatura.
Fez cursos de antropologia e psicologia e, em 1940, publica seu primeiro conto, intitulado “Triunfo”.
Após a morte de seu pai, em 1940, Clarice começa sua carreira de jornalista. Nos anos seguintes, trabalha como redatora e repórter na Agência Nacional, no Correio da Manhã e no Diário da Noite.
Em 1943, casa-se com o Diplomata Maury Gurgel Valente, com quem teve dois filhos. Seu primogênito, Pedro, foi diagnosticado com esquizofrenia. Seu segundo filho, Paulo, foi afilhado do escritor Érico Veríssimo.
Devido à profissão de seu marido, Clarice viveu em muitos países do mundo, desde Itália, Inglaterra, Suíça e Estados Unidos. O relacionamento durou até 1959, e quando resolveram se separar, Clarice retornou ao Rio com seus filhos.
A escritora foi naturalizada brasileira e se declarava pernambucana. Seu nome, Clarice, foi uma das formas que seu pai encontrou de esconder toda sua família quando chegaram ao Brasil.
Clarice falece no dia 09 de dezembro de 1977, véspera de seu aniversário de 57 anos, na cidade do Rio de Janeiro, vítima de câncer de ovário.
“Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada… Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro…”.
Embora sua poesia não utilize a forma em versos, Clarice se destacou com seus poemas repletos de lirismo. Confira abaixo alguns:
Mas há Vida
Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor.
Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata.
Estrela Perigosa
Estrela perigosa Rosto ao vento Marulho e silêncio leve porcelana templo submerso trigo e vinho tristeza de coisa vivida árvores já floresceram o sal trazido pelo vento conhecimento por encantação esqueleto de idEias ora pro nobis Decompor a luz mistério de estrelas paixão pela exatidão caça aos vagalumes. Vagalume é como orvalho Diálogos que disfarçam conflitos por explodir Ela pode ser venenosa como às vezes o cogumelo é.
No obscuro erotismo de vida cheia nodosas raízes. Missa negra, feiticeiros. Na proximidade de fontes, lagos e cachoeiras braços e pernas e olhos, todos mortos se misturam e clamam por vida. Sinto a falta dele como se me faltasse um dente na frente: excrucitante. Que medo alegre, o de te esperar.
Precisão
O que me tranquiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição.
“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.”
“Minhas desequilibradas palavras são o luxo do meu silêncio.”
“Ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras pessoas. E outras coisas.”
“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.”
“Mas quero ter a liberdade de dizer coisas sem nexo como profunda forma de te atingir. Só o errado me atrai, e amo o pecado, a flor do pecado.”
“O medo sempre me guiou para o que eu quero. E porque eu quero, temo. Muitas vezes foi o medo que me tomou pela mão e me levou. O medo me leva ao perigo. E tudo o que eu amo é arriscado.”
“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.”
“Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.”