Arquivo mensal 7 de maio de 2022

O dedo da coletividade que mata a poesia

Respeito os Movimentos Sociais, sobretudo aqueles do passado, de conquistas importantes em relação a certos direitos (da mulher, por exemplo), porém, esses coletivos de hoje, radicalmente ideologizados, de certa forma, atrapalham e aumentam o preconceito à mulher quando passam a exigir, não uma igualdade de direito, que também sou a favor, mas uma reparação histórica à mulher (do grupo delas – porque as que pensam diferente estão fora desse rol de direitos), tornando-as superiores, detentoras de certos privilégios que o mundo de hoje pode oferecer!

É evidente que o atual estágio, as mulheres passam a figurar com mais propriedade do que o homem (esse século é delas), pela facilidade em saberem lidar com várias coisas ao mesmo tempo e buscarem alternativas, sobretudo no campo da qualificação pessoal para se situarem no mercado de trabalho e na vida. É evidente que ainda há muito preconceito em relação a mulher, à sua capacidade e, muitas das vezes, superioridade em determinadas funções. É evidente também que a violência contra a mulher ainda é uma coisa assustadora, apesar das políticas históricas que têm contribuído um pouco para amenizar isso. O assédio é algo que precisa ser combatido. O estupro ainda é uma realidade desgraçadamente presente nos cotidianos da sociedade brasileira, mas, como eu ia dizendo, o que alguns grupos ideológicos estão fazendo com essa causa, transformando isso em interesses pessoais, em frustações comportamentais de natureza partidariamente coletiva, de certa forma atrapalha a luta e contribui cada vez mais com a segregação de gênero e um aumento de grupos ultraconservadores (a exemplo do nosso “fabuloso” Bolsonaro e sua trupe).

No fundo, o que esse povo quer – falo dos ativistas – é colocar as pessoas em uma determinada trincheira lateral, onde as ideias acabam sendo diametralmente conduzidas pelos extremismos das representações. Quer dizer, você não pode ser sensato e defender o equilíbrio entre homens e mulheres, entre direitos e deveres, entre o justo e o injusto. O negócio é tomar partido, mesmo que aquilo implique em dissipação de cabeças pelo caminho. Ou seja: o que o dedo da coletividade apontar, o massacre é garantido – evidentemente com flashes e cliques para intimidar. Não há presunção de inocência, o importante é adjetivar, generalizar: “todo homem é um estuprador em potenciar”. “Não me dê flores, me dê respeito”, “vivermos uma cultura do estupro”. Ou ainda, como se fala no outro lado dos extremos, ao tentar definir uma mulher feminista: “vai cortar o cabelo do sovaco”,… como se toda mulher feminista fosse um estereotipo… “gorda e sapatão”, como se a própria ideologia definisse uma condição já pré-determinada.

É exatamente aí onde acaba a poesia. O mundo idealizado pelos extremistas, sejam eles “ultraconservadores ou feministas radicais” é um mundo sem poesia, sem leveza de alma. Tudo é uma questão de “politicamente correto” ou de uma opressão machista, de proteção ao “cidadão de bem” interposto pela família patriarcal. A semelhança é que ambos são hipócritas. Muitos que defendem a “família” querem na verdade manter uma ideologia de proteção ao preconceito e a estupidez de forma desenfreada e contínua. Ao mesmo tempo em que, quem generaliza uma causa e condena um gênero somente pela sua natureza de ser quer na verdade impor, não uma igualdade, mas uma superioridade absurda de opressão e de propriedade exclusiva da causa, de modo que, quem não faz parte daquele ciclo de pensamento (mesmo que seja mulher) é taxado como machista ou um estuprador em potencial. Na maioria das vezes são pessoas que não vivem a causa (neste caso, o termo poderia ser trocado para o “hipocritamente correto”). Ou, quando vivem, flertam com o extremo e com a banalização de qualquer principio, regra e ordem estabelecida (culturalmente ou não) pela sociedade e que o homem (ou a mulher) em seu aspecto antropológico considera como normal.

 

P.S. Este texto é para quem enxerga as coisas de uma maneira mais coerente e lúcida. É claro, se você pertencer um dos polos extremistas vai me criticar até me adjetivar de acordo com as suas objeções. Só digo uma coisa: Não adianta tentar me entender. Eu não estou do lado que você olha. Não sou extremo, nem periférico, sou do lado de dentro da razão.

 

 

            


Leandro Flores é fundador e produtor dos Projetos ligados ao Café com Poemas.

 

Advogado, Jornalista, Poeta, Editor de Livros e Revistas e Designer Gráfico. Leandro é autor dos livros “Sorriso de Pedra – A outra face de um Poeta” e “Portfólio: Traços e Conceitos”.

É membro-fundador da Academia de Letras do Sertão Cultivista, membro da CAPPAZ – Confraria Artistas e Poetas pela Paz, além de outras instituições Acadêmicas pelo país. Também é Coordenador e Idealizador do Movimento Cultivista Brasileiro e do Projeto Cartas e Depoimentos. Já fez participações em dezenas de antologias poéticas, além de ORGANIZAR e AUXILIAR outras publicações. Leia mais…

 

Poemas que homenageiam o “dia do trabalhador”

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O Dia do Trabalho ou o Dia do Trabalhador é feriado nacional no Brasil e em vários outros países como Portugal, Rússia, França, Espanha, Argentina e etc.

Nesta data, homenageia-se a luta dos trabalhadores que foram responsáveis pela consagração dos direitos trabalhistas atuais. É um momento também para o trabalhador refletir sobre as reais condições trabalhistas, bem como as legislações, normas e demais regras de trabalho.

 

Origem do Dia do Trabalho

A história do Dia do Trabalho surgiu em Chicago, nos Estados Unidos, em 1º de maio de 1886, quando houve uma grande manifestação de trabalhadores para protestarem contra a jornada exaustiva de trabalho – que eram submetidos, chegando até 17 horas.

No Brasil, o Dia do Trabalho teve início no governo de Artur Bernardes, em 1925. A data foi instituída graças a uma pressão popular, sobretudo, a partir de uma greve geral que ocorreu em São Paulo, em 1917. Na ocasião, os comerciantes e operários da cidade permaneceram em greve durante vários dias, por conta das condições precárias de trabalho.

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Poemas sobre trabalho

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Vou chegar atrasada e distraída,
como quem saiu do trabalho e foi direto pro bar.

Vou pedir um hi-fi inocente
e olhar toda hora pro relógio
como se estivesse alguém me esperando em outro lugar.

Vou rir bastante, manter um ar distante
e esquecer quanto tempo faz.

Vou perguntar pelos amigos e, se aceitar carona,
deixar cair um brinco no banco de trás…

Martha Medeiros, in Poesia Reunida.

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Depois da treze poderei sofrer:
antes, não.
Tenho os papéis, tenho os telefonemas,
tenho as obrigações, à hora-certa.

Depois irei almoçar vagamente
para sobreviver,
para aguentar o sofrimento.

Então, depois das treze, todos os deveres cumpridos,
disporei o material da dor
com a ordem necessária

para prestar atenção a cada elemento:
acomodarei no coração meus antigos punhais,
distribuirei minhas cotas de lágrimas.

Terminado esse compromisso,
voltarei ao trabalho habitual.

Cecília Meireles, in Retrato Natural – 1949.

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Chego sempre à hora certa,
contam comigo, não falho,
pois adoro o meu emprego:
o que detesto é o trabalho.

Millôr Fernandes, in “Pif-Paf”

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Fonte: Novos Sabores Publicações

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