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Quem foi Nise da Silveira, a mulher que revolucionou o tratamento da loucura no Brasil e virou filme na Netflix.

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“Nise – O coração da Loucura”, dirigido por Roberto Berliner e estrelado por Gloria Pires, o longa, baseado no livro Nise – Arqueóloga dos Mares, do jornalista Bernardo Horta, traz um recorte acessível e emocionante da atuação da psiquiatra e sua defesa da arte como principal ferramenta de reintegração de pacientes chamados “loucos”.

Nise da Silveira, psiquiatra alagoana (1905-1999), enxergou a riqueza de seres humanos que estavam “no meio do caminho”. No meio do caminho entre o existir e a dignidade. No meio do caminho entre a loucura e a exclusão total. Entre o aceitável e o abominável.

Essa mulher se rebelou contra a psiquiatria que aplicava violentos choques para “ajustar” pessoas e propôs um tratamento humanizado, que usava a arte para reabilitar os pacientes.

Esquizofrênicos marginalizados e esquecidos puderam ser autores de obras hoje expostas no Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro (RJ). A arte marcou o renascimento daquelas pessoas para a sociedade.

Os ensinamentos de Nise nos falam de uma atualidade que se repete a cada vez que a loucura é estigmatizada e polarizada: é ou não é louco(a). Cobramos de nós mesmos, o tempo todo: sejamos funcionais. Como se não pudéssemos falhar ou viver nossas escolhas fora da curva que definiram para nós.

Nise, essa senhorinha miúda, agigantou a humanidade ao cuidar de brasileiros rejeitados pelo sistema e isolados do convívio. A história dela já foi tema de documentários e do filme Nise – O Coração da Loucura, lançado em 2016 e disponível pela Netflix (Vale a pena assistir).

CENTRO CULTURAL DA SAÚDE/MINISTÉRIO DA SAÚDE

Depois de assistir ao filme, fica evidente, por meio de uma ficção que comove e mobiliza, o fato de que Nise terá sempre nosso respeito e admiração, pois tratou a loucura com carinho e fez dela um motor de vida.

Descobrir a história de Nise é encontrar um pouco de nós mesmos nos momentos em que parecemos não “caber” em nossa própria existência.

Como essa mulher fez a diferença no mundo, listamos algumas razões pelas quais ela merece ser convocada à nossa memória:

Ela foi uma mulher pioneira

Em 1926, ao se formar na Faculdade de Medicina da Bahia, Nise era a única mulher em uma turma de 157 alunos. Ainda na graduação ela apresentou o estudo Ensaio sobre a criminalidade da mulher no Brasil.

Ela deu voz à loucura

“Na época em que ainda vivíamos os manicômios e o silenciamento da loucura, Nise da Silveira soube transformar o Hospital Engenho de Dentro em uma experiência de reconhecimento do engenho interior que é a loucura”, explica à revista Cult Christian Ingo Lenz Dunker, psicanalista e professor titular do Instituto de Psicologia da USP.

Nise era uma defensora da loucura necessária para se viver. “Não se cura além da conta. Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca convivi com pessoas muito ajuizadas.”

Ela foi presa política

Nise ficou presa de 1934 a 1936, durante o Estado Novo, acusada de envolvimento com o comunismo. Ela foi denunciada por uma colega de trabalho, que era enfermeira. No presídio Frei Caneca, ela dividiu a cela com Olga Benário, a militante comunista alemã que na época era casada com Luís Carlos Prestes, lembra a revista Cult.

Ela foi citada em um livro do Graciliano Ramos

Na prisão, Nise também conheceu o escritor alagoano Graciliano Ramos, que a cita em seu livro Memórias do Cárcere:

“(…) Lamentei ver a minha conterrânea fora do mundo, longe da profissão, do hospital, dos seus queridos loucos. Sabia-se culta e boa. Rachel de Queiroz me afirmara a grandeza moral daquela pessoinha tímida, sempre a esquivar-se, a reduzir-se, como a escusar-se a tomar espaço.”

Ela implementou a terapia ocupacional no manicômio

Em 1944, Nise passou a trabalhar no Hospital Pedro II, antigo Centro Psiquiátrico Nacional, no Rio de Janeiro. Ela se recusou a seguir o tratamento da época, que incluía choque elétrico, cardiazólico e insulínico, camisa de força e isolamento. Ao dizer “não”, a psiquiatra foi transferida, como “punição”, para o Setor de Terapia Ocupacional do Pedro II. A reportagem da revista Cult lembra que esse era um espaço desprestigiado na época.

Porém, essa transferência foi fundamental para a revolução que Nise provocaria na psiquiatria: foi nesse setor do hospital que ela implementou, junto com o psiquiatra Fábio Sodré, a Terapia Ocupacional no tratamento psiquiátrico.

Ela usou a arte para tratar problemas graves de saúde mental

Nise percebeu que as artes plásticas eram o canal de comunicação com os pacientes esquizofrênicos graves, que até então não se comunicavam verbalmente. As obras produzidas por eles davam “voz” aos conflitos internos que viviam.

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Ela expôs as artes feitas pelos pacientes

Além do efeito terapêutico, as artes plásticas possibilitaram que os pacientes (ou clientes, como Nise gostava de chamá-los) se tornassem verdadeiros artistas.

A produção do ateliê do Setor de Terapia Ocupacional já tinha despertado a atenção de pesquisadores de saúde mental e médicos, mas críticos de arte também viram naqueles trabalhos obras artísticas dignas de exposição. Foram organizadas duas exposições internacionais e, em 1952, foi inaugurado o Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro.

Em entrevista à revista Cult, Luiz Carlos Mello, diretor do Museu das Imagens do Inconsciente e autor da fotobiografia Nise da Silveira – Caminhos de uma Psiquiatra Rebelde, informa que o acervo pessoal de Nise da Silveira é tombado como Memória do Mundo da Unesco. “Com a criação do Museu, também como um centro de estudos e pesquisa, seu acervo atingiu mais de 360 mil obras e se tornou a maior e a mais diferenciada coleção desse tipo de arte no mundo. Suas principais coleções foram tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.”

Ela introduziu gatos e cachorros na rotina dos psicóticos

Nise encorajou os pacientes psicóticos a conviverem com gatos e cachorros. O resultado foi uma admirável promoção de afetividade com os bichinhos.

Ela revelou as emoções dos esquizofrênicos

Elizabeth Maria Freire de Araújo Lima, professora do Curso de Terapia Ocupacional da USP e autora do livro Arte, Clínica e Loucura: Território em Mutação, explica à revista Cult que Nise constatou que o mundo interno do esquizofrênico, considerado inatingível até então, poderia ser acessado, revelando as emoções desses pacientes por meio das artes plásticas. “Nise afirmava que o hospital colaborava com a doença e acreditava que caberia à terapêutica ocupacional parte importante na mudança desse ambiente.”

Ela chamou a atenção de Jung

Nise era uma devoradora de livros e tinha um interesse especial pela obra do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung. Ela escreveu uma carta para ele, pedindo ajuda para interpretar as mandalas que os pacientes desenhavam. A correspondência é relatada na fotobiografia Nise da Silveira – Caminhos de uma Psiquiatra Rebelde:

“A configuração de mandala harmoniosa, dentro de um molde rigoroso, denotará intensa mobilização de forças auto-curativas para compensar a desordem interna. Então pedi para que fotografassem algumas mandalas e as enviei com uma carta para C. G. Jung, explicando o que se passava. Foi um dos atos mais ousados da minha vida.”

Bernardo Horta, autor da biografia Nise — Arqueóloga dos Mares, diz à Cultque Nise “constata o que Jung afirmava: se para o neurótico – o que seria todos nós, segundo Freud – o tratamento é por meio da palavra, ou seja, a psicanálise, para o esquizofrênico, segundo Jung, a palavra não dá conta. Para esse paciente, o tratamento deveria ser pela imagem”.

Em 1957, Nise é convidada por Jung para passar um ano estudando com ele no Instituto Junguiano, na Suíça, além de expor o acervo do Museu de Imagens do Inconsciente no II Congresso Internacional de Psiquiatria. Na volta ao Brasil, em 1958, ela criou o Grupo de Estudos C. G. Jung no Rio de Janeiro, que coordenou até morrer, em 1999.

Ela questionou os manicômios

Para Nise, a experiência em manicômios mostrou que havia uma confusão entre hospital psiquiátrico com cárcere, com os pacientes tratados como presos. Avessa a essa abordagem desde o começo, e defensora de um olhar humanista, em 1956, Nise fundou a Casa das Palmeiras, a primeira instituição a desenvolver um projeto de desinstitucionalização dos manicômios no Brasil.

A Casa é lugar para o convívio afetivo e estímulo à criatividade dos psiquiátricos. A clínica funciona em regime aberto, sem fins lucrativos, à base de doações.

Ela ajudou a escrever a história da psiquiatria

Nise apontou falhas na psiquiatria, contestou práticas e demonstrou soluções, dando novos contornos e sentidos aos tratamentos e às relações entre psiquiatras e pacientes. Em seus 94 anos de vida, a alagoana publicou dez livros e escreveu uma série de artigos científicos.

Ela representa uma resistência atemporal

O psicanalista Christian Dunker, no Blog da Boitempo, reforça a atemporalidade dos feitos de Nise:

“Não me parece um acaso que, em meio ao momento de maior dissenção social que já vivemos, desde os anos de chumbo da ditadura militar, estejamos presenciando o maior retrocesso desde então registrado em matéria de saúde mental. A nomeação de Valencius Wursch Duarte Filho como secretário de saúde mental do Ministério da Saúde, em uma operação indecente de barganha política, é o retorno de tudo o que Nise demorou uma vida para desfazer. Passeatas, manifestações e mesmo a própria ocupação, que persiste há mais de dois meses, de uma das salas do Ministério, parecem não ter voz nem luz contra a volta das piores trevas psiquiátricas.”

“Duarte Filho foi diretor técnico do hospital psiquiátrico Casa de Saúde Dr. Eiras, fechado em 2012 depois de constatadas graves violações aos direitos humanos pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados”, escrevem os psicanalistas Antonio Lancetti e Maria Rita Kehl, e o psicólogo Aldo Zaiden, em um artigo na Folha de S. Paulo.

Segundo a Sociedade Brasileira de Psicanálise, entre os profissionais de saúde, a indicação de Duarte Filho para o cargo é vista como um “retrocesso e uma ameaça real aos avanços conseguidos nos últimos anos com a Rede Nacional de Saúde Mental, que promoveu a substituição dos hospitais psiquiátricos pelos Centros de Atenção Psicossociais, organizados para oferecer atendimento intensivo, articulados a emergências psiquiátricas, residências terapêuticas e outras formas efetivas de reabilitação, beneficiando milhares de pessoas antes sujeitas a maus-tratos de toda ordem”.

Mais do que atual: Nise é urgente para a sociedade brasileira.

Por: Amanda Mont’Alvão Veloso

EXAME

Veja o trailer abaixo:

A VERDADEIRA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL SERÁ EM 2022

O baderneiro subversivo da ordem pública, com medo do Ministro Alexandre de Moraes (porque ele é um ministro rígido e IRÁ ASSUMIR a presidência do TSE durante as eleições de 2022), agora fala (erroneamente) em convocar o Conselho da República (um Instituto jurídico importante de consulta do presidente para possibilidade de decretação de Estado de Defesa, Estado de Sítio ou Intervenção Federal).

É mais uma escalada no sonho de se tornar um Hugo Chaves aqui no Brasil.

A gente avisou tanto. Foram tantas manifestação do óbvio, que ele faria isso. Mas muita gente embarcou na loucura bolsonarista e agora paga o preço, inclusive ministros do STF.

Bolsonaro é um cachorro ferido, fantasiado de presidente.

Sim. Há muita gente que o segue. E são fiéis em suas delinquências. Mas venceremos a essa estupidez em breve.

Deixe Bolsonaro com seus likes e cliques. A história é bem mais que isso. A verdadeira independência do Brasil em 2022 quando derrotarmos o “megalomaníaquissimo” alucinado que é esse governo e, assim, a República completará 200 anos de independência.

“A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida” – 25 de julho (dia do escritor)

Dia Nacional do Escritor é comemorado em 25 de julho no Brasil.

Esta data é uma homenagem aqueles que se dedicam às letras de diferentes formas. Sejam nos textos científicos ou fictícios, como contos, romances, crônicas, os escritores precisam ter a grande habilidade de envolver os leitores, através da emoção ou da técnica.

Para ser um bom escritor é preciso ter um vasto conhecimento de vocabulários, da gramática e ortografia, além de uma boa dose de criatividade e conhecimentos gerais do mundo. Muitos escritores utilizam do ambiente onde vivem como meio de inspiração, outros, as causas sociais pelas quais estão envolvidos. Cada escritor tem a sua forma de escrever e o motivo também é diverso. O escritor baiano, Jorge Amado, por exemplo, se inspirava nas pessoas e nos locais que convivia, em diferentes épocas. João Cabral de Melo Neto era conhecido como “o arquiteto das palavras”. Para ele, a construção poética não é apenas fruto de inspiração, mas de técnica, da “simetria”, “algo que só poderia ser conseguido através de um exercício autocrítico e de um trabalho linguístico rigoroso” (Guia do Estudante).

A nível internacional, os escritores são homenageados em 13 de outubro, data conhecida como o Dia Mundial do Escritor.

Origem do Dia Nacional do Escritor

A homenagem aos escritores no dia 25 de julho veio a partir do I Festival do Escritor Brasileiro, organizado na década de 1960 pela União Brasileira de Escritores (UBE), sob a presidência de João Peregrino Júnior e tendo como vice-presidente, o escritor Jorge Amado, um dos principais nomes da literatura nacional.

Clique na imagem

Frases para o Dia do Escritor

  • “Escrever é estar no extremo de si mesmo.” (João Cabral de Melo Neto)
  • “Escritor: não somente uma certa maneira especial de ver as coisas, senão também uma impossibilidade de as ver de qualquer outra maneira.” (Carlos Drummond de Andrade)
  • “Quando os escritores morrem, eles se transformam nos seus livros. O que, pensando bem, não deixa de ser uma forma interessante de reencarnação.” (Jorge Luis Borges)
  • “O mais belo triunfo do escritor é fazer pensar os que podem pensar.”(Eugène Delacroix).
  • “É preciso se embriagar da escrita para que a realidade não o destrua”. (Ray Bradbury)
  • A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida”. (Fernando Pessoa)
  • Essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura”. (Charles Bukowski)
  • O resultado fatal de eu viver é o ato de escrever”. (Clarice Lispector)

Fonte: Editora Novos Sabores Publicações

Mãe exclui contas da filha nas redes sociais com mais de 2 milhões de seguidores

Ela declarou que o mundo online e os mais de dois milhões de seguidores estavam influenciando a jovem de forma negativa

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Recentemente, um post de uma mãe, a médica Fernanda Rocha Kanner, viralizou. Na publicação, ela explica por que sua filha, Nina Rios, de 14 anos, não tem mais perfil nas redes sociais.

A adolescente já somava mais de dois milhões de seguidores e eles não entenderam o motivo da ausência da jovem. “Turminha teen, eu vou escrever aqui porque recebi muitos directs (…) Decidi apagar as contas dela. Chata, eu sei, mas nossa função como mãe não é ser amiguinha de vocês e isso vocês só vão entender em retrospectiva. Papo de tia. O carinho que vocês têm por ela é a coisa mais fofa mas eu não acho saudável nem para um adulto e muito menos para uma adolescente basear referências de autoconhecimento em feedback virtual”, escreveu Fernanda.

Além disso, a mãe reforçou que não considera esse tipo de envolvimento saudável. “Eram dezenas de fã clubes, tudo muito doce mas também prejudicial para qualquer adolescente em processo de descoberta e busca pela individualidade. Eu não quero que ela cresça acreditando que é esse personagem. (…) Não quero minha filha brilhante se prestando a dancinhas diárias como um babuíno treinado. Acho divertido… E mega insuficiente. Triste geração em que isso justifica fama”, acrescentou.

Fernanda declarou que quer incentivar a filha a viver uma vida offline sem que precise depender da aprovação das pessoas nas redes sociais REPRODUÇÃO / INSTAGRAM

A médica concluiu que é importante que os jovens entendam que a vida virtual não pode vir antes da real. “Saudade de quando precisava ter talento em alguma coisa para se destacar. (…) Não quero que ela se emocione com biscoitos (assim que fala?) e elogios. Nem que se abale com críticas de quem não conhece. A fã número um dela sou eu (…) Quando ela tiver conteúdo interessante para dividir ela pode voltar a ter conta. (…) A vida só presta quando se é feliz offline primeiro. Beijo da tia Fê”, finalizou.

Moda perigosa

Fernanda não está errada no que disse. Os jovens são influenciados a todo momento e nem sempre de forma positiva. Além dos vídeos das dancinhas como a médica mencionou, há outras atividades que viralizam e são bem perigosas.

A internet dita tendências e muitas são nocivas à vida das pessoas. A curiosidade pelos desafios da moda pode prejudicar muito o jovem. Uma nova “brincadeira” que circula e tem chamado atenção de especialistas e autoridades, por exemplo, incita o usuário a mudar de realidade.

O desafio #shiftingrealities ou, mudando a realidade em tradução livre para o português, “ensina” o usuário a entrar em outros “mundos”. Isso mesmo. Parece loucura, mas, nesse trend (tendência), os adolescentes compartilham métodos para que o jovem consiga visitar outros lugares e até “vidas”.

Há quem retrate que, após participar, sentiu alguém o tocando e até ouviu vozes. Outros declaram uma frustração por não ter conseguido sentir nada.

Os especialistas alertam que esse comportamento revela um desejo de escape, ou seja, de fugir da própria realidade e de conquistar visibilidade.

“Os jovens estão vivendo um momento que chamamos de exploratório e, ainda mais na pandemia, a internet se tornou um caminho para eles. Essa por exemplo é uma ‘brincadeira’ perigosa que pode causar danos emocionais. Por isso, os pais devem ficar muito atentos, monitorá-los desde a infância”, orienta a psicóloga Cláudia Gindre.

É preciso sempre conversar sobre os perigos desses desafios e, se preciso for, agir como a médica Fernanda Rocha Kanner, excluir as contas das redes sociais para incentivar o filho a viver uma vida offline, ou seja, a verdadeira realidade.

 

Fonte: REFLETINDO SOBRE A NOTÍCIA POR ANA CAROLINA CURY | Do R7

Obs. Não conseguimos identificar a autoria das imagens 

 

A Revista Bula traz “As cartas perdidas de Caio Fernando Abreu”

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Decidi achar as cartas do Caio Fernando Abreu no meu arquivo (soterrado de papéis, acumulados em décadas). Ele escrevia normalmente para mim nos anos 1970, quando por um tempo fomos muito amigos e nos correspondemos, ele em Porto Alegre, eu em São Paulo. Biógrafos e estudiosos já me pediram essas cartas. Uma biógrafa chegou a duvidar da existência delas, já que eu não ofereço a aparência de um capital simbólico suficiente para convencer os deslumbrados. Mas por algum motivo não cedi.

Agora vou revisitar cada uma delas, sem obedecer a nenhuma cronologia. São todas cartas legítimas, originais, com a assinatura do amigo que já tinha grande prestígio na época e se transformou num escritor cult, numa celebridade nacional, queridíssimo por muitos milhares de leitores. Divulgo para o meu país conforme recebi: com o espírito desarmado e abraçado ao grande amor que os escritores do Brasil tem pela literatura que aqui se faz e aqui se paga com a vida.

Com vocês, o Caio que me escrevia e foi uma personalidade chegada, um amigo por algum tempo próximo, irmão das letras e generoso em sua amizade e talento. A primeira, que divulgo, é do início de agosto de 1976. Foi escrita em papel pardo comum, a máquina e corrigida a caneta. Tem algumas frases antológicas, que poderão ser notadas ao longo do seu texto.

 

Porto, 2. 8. 76
Nei:
Nosso velho conhecido — Mr. August — chegou ontem, vestido a caráter: aquele velho terno cinza muito molhado, e tão velho que já tem algumas manchas de limo. Agora é preciso hospedá-lo por 29 dias. E resistir, já que ele insiste sempre em nos puxar para dentro e para baixo. Resistiremos.

Junto com ele veio também — graças! — um pouco de luz, acho que para contrabalançar: a Pifa, um pouco mais ruiva e muito mais bonita. Deu notícias de você, da Ida, Daniel e Juliana (as mãos de Juliana já estão famosas aqui no Sul, dizem que são longuíssimas, expressivas, espirituais). Eu tinha recebido os teus BIC de pena (lindos) e a notícia do nascimento dela, fazia algum tempo. Devia ter respondido, mas a barra andou pesando, tremores de terra internos e também bodes de fora — mortes, doenças na família (avôs, avós, tias — essas coisas).

Agora estou recomeçando/refazendo. Batalho emprego COM vontade de achar y me vuelve a la universidad, dia 9. Independência ou morte é a ordem do dia. Tenho escrito bastante, umas coisas muito cruéis, às vezes até meio porcas, genetianas. Por aí você pode supor o estado da cuca. Mas tudo bem: botar o horror pra fora é um dos jeitos de não deixar que ele nos esmague.

Estou mandando procê o recorte duma entrevista com o Mário Quintana, saída no Caderno de Sábado, e onde você — glória!- pinta como um dos poetas preferidos dele. Congratulations efusivas! Acho que é o maior elogio que você já recebeu em toda a sua vida. Confesso, fiquei com inveja. Tá saindo um novo livro dele — “Apontamentos de História Sobrenatural”. Um dos poemas que mais me fez a cabeça é este aqui:

O Morituro (Mario Quintana)

“Por que é que assim, com suas caras imóveis e simiescas,/ os vivos nos devassam num cínico impudor?/ Por que nos olham assim — como se fôssemos cousas —/ quando os nossos traços vão repousando, enfim,/ na tranqüila dignidade da morte?/ Por que é que eles, com a sua obscena curiosidade,/ não respeitam o até mais íntimo da nossa vida/ — ato que deveria ser testemunhado apenas pelos Anjos?/ Ah, que Deus me guarde na hora da minha morte, amén,/ que Deus me guarde da humilhação deste espetáculo/ e me livre de todos, de todos eles:/ não quero os seus olhos pousando como moscas na minha cara./ Quero morrer na selva de algum país distante…/ Quero morrer sozinho como um bicho!”

Sinto saudade de ti. Sinto falta. Os amigos estão raros, distantes, esquivos. Não deu para viajar em julho, talvez no fim do ano, ou de repente, sempre pode ser.

Que teus três companheiros estejam bem. Um beijo para eles. Até a outra.

Teu
Caio

 

 



Já tínhamos tempo acumulado, e não era pouco. Das cartas que Caio Fernando Abreu me endereçou em 1976, esta é a mais dark, pesada e absurdamente luminosa. Aqui temos o escritor aos 27 anos, com um livro poderoso na praça, “O Ovo Apunhalado”, sendo alvo de críticas, análises, elogios da grande imprensa e dos veículos especializados e se sentindo um lixo, desconfortável no seu papel de escritor, duvidando agora do seu ofício, se perguntando porque nos metemos nessa e falando sobre surtos, loucuras, internações, psiquiatria, porres. E, ao mesmo tempo, declarando mais uma vez sua fé na dignidade humana. Nada foi cortado, nem nesta nem nas cartas anteriores. Com todas as letras, vamos revisitar o Caio dos meus arquivos, que agora vem à tona como um vulcão. Fiquem atentos. É barra. A mais genuína.

Ao som de Belchior

Nei:
Salve:

hoje to tomando chá com limão e ouvindo Belchior: “eu sou apenas um rapaz latinoamericano/ sem dinheiro no banco/ sem parentes importantes/e vindo do interior”. Eu também. Grilei com a crítica e as cartas-pixativas de “Escrita” — ainda não chegou aqui — sei lá, to numa fase de análise em que fico me achando um lixo (apaga o cigarro no peito), outras putas-velhas-de-divã dizem que é-assim-mesmo and I hope so, daí fica pintando esse tipo de coisa e só piora, não é? Sabe que desde janeiro não escrevo NADA? Foi em janeiro que começou essa badalação em torno do Ovo, que me fez muito mal, tanto a positivo como a negativa — já não tenho naturalidade para escrever. Além disso inútil.

Nair, minha mãe, hoje veio de novo com o velho papo: na sua ronda costumeira por casas espíritas, umbandistas e o que pinta, sempre dizem que “uma mulher fez um trabalho para mim num cemitério”, many years ago — é uma coisa pra me enlouquecer, e que só não enlouqueci porque tenho muita força, mas o tal trabalho bodeia num outro sentido, causando depressões, autodepreciações. O psiquiatra hoje de manhã disse que tenho como uma espécie de “culpa original”: acho que não mereço nada de bom que me acontece, daí nos momentos em que devia estar meio contente é quando estou mais bodiado (vide Laing, “O Eu Dividido”, falso-self & outros bichos). Eu não sei. Sei que tem um negócio errado.

Tua carta, lida quatro vezes, me deu uma vontade absurda de estar em SP. Absurda porque tive a oportunidade de ficar aí em fevereiro e não quis. Você me pergunta pela minha paixão…Saco, acho que aqui to sentindo falta de estímulos-externos: barras mui violentas, batalha por grana, por casa, por emprego, essas coisas. Nas vezes em que estive mais pressionado de fora para dentro foi quando mais produzi. Estou cansado da meia boca daqui: sentimentos mornos —quanto tempo faz que não me apaixono? quanto tempo faz que não sinto ódio? quanto tempo faz que não tenho vontade de morrer? É como um filme de Antonioni fase- antiga, longas tomadas, lentíssimas, mui sacais — & nada acontecendo. Quanto tempo faz que não beijo alguém na boca? Many time, my friend.

Saí a catar o Dudu San Martin ontem —não teve espetáculo, chovia pra caralho (“o maior caldo”, como dizem no IAPI) — daí li os poemas que ele mandou pro livro-coletivo-do-Valdir (que me mandou o livro, tudo bem, escrevi a ele). Wow! Ou uáu, para ser mais nacionalista. São muito fortes? vivos? bons? são fortes-vivos-bons, mas também são mais, têm um FERVOR que fazia tempo eu não sentia em nada escrito. Acho que é o melhor dele que li até agora, me fez muito mal, me baixou ainda mais a moral, porque são extremamente pessimistas (mas, nessa altura do campeonato, pode-se ser otimista?). Depois bebemos cachaça e ouvimos Mercedes Sosa. Levitan — encontrei no teatro, outro dia, ele fez a música duma peça infantil que está em cartaz junto com a nossa, tava de calça listrada e, não sei, meio “controlado” (não sei se é bem isso), como sempre.

 

 


Intervalo: gagos e vesgos

Parei quase umas 24h, nesse tempo (será que no espaço também?) que separa a última frase coube: uma apresentação do “Sarau” prumas 20 pessoas (amargo, não?), uma tarde de autógrafos do Gabriel de Britto Velho onde a média de idade das pessoas devia ser — sem exagero — uns 60 anos (mas ele é ótimo: gago: sempre gostei muito de gagos, de vesgos também, têm something else); quebra-pau nos camarins (ainda vou escrever uma peça que se passe naquele espaço entre o camarim e o palco).

Incrível, tá mesmo difícil, meu amigo — chegou Caparelli, trovamos, trovamos, aí quando ele ia saindo chegou um cara da UNISINOS com um gravador, querendo me entrevistar. Fui entrevistado. Burríssimo, o moço, mas excelente visual. Ficou me olhando dum jeito esquisito quando perguntei: “Sabe que você poderia estar faturando horrores como mocinho de bangue-bangue italiano?”

 


Esquina maldita

Mas, como eu ia dizendo — depois de mais de um mês, ontem, fui à Esquina Maldita procurar Emílio Chagas. Bem foi inevitável, tomamos um pileque épico. Hoje acordei ruim, gosto de cabo-de-guarda-chuva na boca & culpa: ando bebendo muito. Horrível, não é? Eu acho, também, mas é difícil evitar, principalmente agora que começou a esfriar, de noite dá aquela necessidade de coisas quentes você sai por las calles, aí vêm as brahmas, os vinhos, os conhaques, as cachaças. E é engraçado, quando a gente tá bebendo com alguém chega num ponto em que parece que vai acontecer alguma coisa (ninguém sabe exatamente o que), e que para essa alguma-coisa acontecer mesmo é preciso beber um pouco mais. Daí você pede — e então a coisa começa a se decompor. Nada acontece, o porre começa a pintar & a mosca pousa na sopa fria.

Nei, estou ficando cínico e sem esperanças. Essa é uma fase grave. Você não pode me ajudar. Pode-se ficar cínico numa boa? Já não consigo acreditar muito mais nessa “numa boa”. Apaga o cigarro no peito.

Tenho transado com o Henrique do Valle. Ele é incrível, incrível mesmo, mas numa ruim. Não é exagero, NUNCA vi ninguém mais drogado, não consegue ficar em pé, quem o ampara é a namorada, que se chama — juro — Misericórdia. Tem marcas de picadas nas VEIAS DOS TORNOZELOS. Veja esses poemas que ele me trouxe: “ninguém acreditou/ quando eu falei dos anjos/ que moram nas estrelas// então eu falei da crise do petróleo/ do preço do dólar/ e falei mal dos outros// nas estrelas/ os anjos morriam de rir”. Ou esta, baudelairiana: “escuta minha prece, Satan/ já que o lótus não nasceu/ deixa eu beber teu vinho/ com os bodes da floresta// já que a vida não é nada/ sem teu sopro// só tu devolves paz/ só tu dás alegria// só tu entregas prazer// enchendo a terra com teu orvalho”, Ele trouxe as respostas de um questionário para a “Escrita”, mais uma pilha de poemas. Alguns vão junto com a matéria mas os outros eu não sei o que fazer. Tem a “Inéditos”, de Belo Horiozonte. Ele é muito muito muito bom. E dói olhar para ele, porque está se matando e sabe disso.

 


 

Cuca meia-boca

Estou meio tonto, de ressaca. Ontem vi a crítica da Veja sobre “O Ovo” — aprovado, não é? Não fiquei contente, não me pergunte porque (a tal “culpa original”?). Depois vi meu conto na Ficção, aí fiquei contente. Queria que você lesse, é uma coisa muito louca.

Chega o Correio com um livro de Minas (meu deus, como os mineiros escrevem) —“O Globo da Morte”, de Hugo Almeida Souza, um pra mim outro pra Jane (que manda um beijo), abro ao acaso: “Faz assim, cara: diga que tá legal, muito bonito, colorido, sabe como? , (suas mãos mexiam, o cabelo no olho), que o anúncio dá vontade na menina de comprar a porra aí, entende?”. Quem mandou foi o Luiz Fernando Emediato, que me dá um click! — esse-cara-é-bom. Dudu quer ir para Minas, eu quero conhecer Lucienne Samôr, também quero ir pra Minas, Minas não existe mais? Rosane-Luísa internou-se na ala para indigentes do São Pedro, a psiquiatra descobriu e recambiou-a para a Melanie Klain. Procurem, procurem.

Nei, houve um tempo em que a loucura era coisa tão de poucos, lembro dos loucos de rua de Santiago/Itaqui, e gente assim mais fina só tinha uma mulher, Dona Benvinda (!), mãe dum amigo meu, Fernando, que tinha medo de formiga e quase 20 anos depois econtrei no El Mourisco, desmunheecando muito — Benvinda enlouquecia periodicamente e era trazido pro São Pedro. Agora todo mundo enlouquece a toda hora, já estive louco, mas nunca numa clínica, o que é uma desfaçatez da minha parte, às vezes até entro numa que a minha cuca é demais meia-boca, já que nunca mereceu sequer uma clínica. Rosane, eu não tive coragem de amar Rosane como ela me pediu que eu a amasse (sem pedir, entende?)

Nei, os amigos estão enlouquecendo, alguns, outros indo embora, outros se trancando em casa, outros ainda bebendo muito, não interessa falar do meu medo, mas ele existe e eu não sei se o nosso grito adianta alguma coisa contra tudo isso — adianta? Gritarei/gritaremos sempre, mas as coisas mudarão? Esta é uma karta kaótica. Caparelli diz que todo verbo no futuro é imbecil. Houve um tempo em que pensei que tinha asas, houve um tempo em que pensei que comigo seria diferente. Tenho na memória imagens & imagens de solteirões de bombachas tomando mate nos degraus ao sol, no inverno (sempre agosto), eu não sei porque isso me ocorre agora, já caiu a primeira geada e as bergamotas estão muito doces. É isso aí. Ou não. Amanhã continuo.

 

 


 

Caio Fernando Abreu: três motivos para uma carta

Compartilho mais uma carta que Caio Fernando Abreu escreveu para mim nos anos 1970. Desta vez, ele enumera três motivos para me enviar suas preciosidades: primeiro, a resenha sobre meu livro de estreia “Outubro”, que saiu na imprensa de Porto Alegre; segundo a alegria de ter participado de um encontro com jovens estudantes de Vacaria, RS, onde reforçou sua certeza na missão de escritor, num trecho antológico sobre nosso ofício; e terceiro, a descoberta de uma poeta mineira então desconhecida, Adélia Prado. O desfecho é mais do que surpreendente: o relato de um sonho castañedistico! Ou seja, é tudo alumbramento. Vamos à carta.

 

Porto 4. 7. 76
Nei:
Te escrevi acho que faz umas duas semanas, um pouco menos. Você ainda não respondeu, e tudo bem, não se preocupe nem se apresse. Soube pelo Dudu (o San Martin, não o “Magic Stone”, que é meio chatinho) que você saiu da Folha de São Paulo — ou que te saíram, digamos assim. Sempre as sacanagens inesperadas, não é? Então imagino que você deva estar um pouco envolvido com a batalha de grana ou de novo emprego, e, sei lá, espero que tudo já tenha se resolvido ou, pelo menos, que você esteja levando na melhor possível, sem bodiar com isso.

Tô te escrevendo por três motivos, principalmente.

Primeiro: enviar esse recorte, do “Caderno de Sábado” de ontem — uma crítica do Antonio Hohfeldt sobre “Outubro”. É UMA CRÍTICA ALTAMENTE ELOGIOSA — e eu fiquei contente. Muita gente pixa o Antonio (inclusive eu), mas, não sei, o Appel diz sempre que “no fundo ele é um sujeito bom e esforçado” — é um cara também que apesar dos seus muitos defeitos, tem uma grande abertura. É muitíssimo menos provinciano e cagador de regras que os Neis Gastais e Cristaldos da vida, o que é um ponto (ou muitos) a favor. Além disso, me parece que ele decodificou muito bem o teu livro, que ele sacou, sentiu. Espero que você também fique contente. O Wladyr Nader disse que teu livro era adolescente. Forças! Eu não concordo. Uma vez você falou uma coisa muito bonita, aquilo que “a gente não deve atraiçoar a própria juventude” — e na minha opinião é exatamente isso que o Nader não sacou no “Outubro”: o compromisso com o novo (que sempre vem, não é Belchior?).

E aqui pinta o segundo motivo desta carta. Seguinte: estive dois dias em Vacaria, fazendo palestras para estudantes do nível colegial, sobre a experiência “Teia” e “Há Margem” e “a novíssima literatura gaúcha”. Nei, foi demais bonito. Não dá para contar tudo, seria assunto pruma carta de 50 páginas. Mas o que aconteceu foi que me dei conta que não estamos escrevendo inutilmente, para ninguém ou para nós mesmos. A molecada (em Vacaria!) estava excitadíssima, na biblioteca do colégio tinha “Teia” e também “Há Margem” (a professora de literatura é muito legal), então eles estavam informados sobre você e o resto do pessoal. Senti que estão muito ávidos de uma literatura que fale do aqui-agora, que fale deles também.

Um garoto me falou que não suportava a literatura antes do meu papo porque pensava que “literatura eram só aqueles caras chatos do livro de português: José de Alencar, Raul Pompéia”. Por aí afora. Me deixou muitas coisas boas, uma delas a certeza que minha missão é exatamente essa: fazer as cabeças alheias. Distribuir, salpicar aqui e ali pitadinhas de inquietação, de sonho, também de luta. Uma certeza objetiva (fora de mim) que existo como escritor, você me entende? E que o nosso recado, através do que escrevemos, sem que a gente saiba, está voando por aí — e que nós temos que ser cada vez melhores, mais verdadeiros e mais conscientes do que podemos dar ao outro que nos lê. Isso aí. Pessoalmente, um dia, te conto como foi tudo.

O terceiro motivo é poesia, também. Encontrei uma poeta chamada Adélia Prado, mineira — acho que já te falei dela —, tem um livro chamado “Bagagem”. E tenho lido os poemas dela sempre pensando em você. Deu a vontade de dividir contigo e, na impossibilidade de te mandar o livro (não me separo dele), te mando também esses poemas: Grande Desejo, Impressionista, Ensinamento, Um Jeito, Bilhete em Papel Rosa, Psicórdica, Clareira, Cabeça.

É isso aí. Tem muito mais, é um livro farto de singelezas, gosto de bolinho, dia de chuva e café preto. Adélia tem me encantado e me feito ver o mundo de um jeito muito mais simples, “sem sérias patologias”, que existe e que a gente já teve e se perdeu.

Ah, queria te contar também de um sonho castañedistico que tive em Vacaria: muitas coisas, uma festa, eu assistindo do portão uma festa que passava sobre a rua, e a rua era rolante, as pessoas não caminhavam, a rua é que carregava eles. Aí entrei na casa branca, grande, colonial, e tinha uma bacia de louça cheia de objetos, principalmente pedras. Mergulhei as mãos dentro da bacia. A voz da minha avó disse: “São objetos de poder”.

Saudade de você. Um beijo pro Daniel, outro pra Ida. Até de repente,
do seu
Caio

Retorno

1. Sobre personalidades: é a opinião do Caio, que deixo aqui na íntegra. 2. Gostei muito da resenha do Antonio Hohfeldt. 3. “Teia” e “Há Margem” são dois livros coletivos de contos e poemas que foram publicados naquela época em Porto Alegre. 4. Pedi demissão da “Folha” para trabalhar na “IstoÉ” onde, aí sim, me saíram. 5. “Outubro” é meu livro de estreia, publicado pelo Instituto Estadual do Livro — RS em que Caio foi um dos consultores: era preciso três aprovações — uma outra foi do Irmão Elvo Clemente, da PUC. 6. Wladyr Nader escancarou as páginas da “Escrita” para minhas resenhas. 7. Caio datilografou todos os poemas citados da Adélia Prado. Não reproduzo aqui porque tomaria muito espaço. 8. Pelo mesmo motivo só reproduzo a primeira, a segunda e a última página da carta. As outras contém reproduções dos poemas de Adélia. Ao todo, são três folhas escritas na frente e no verso.

 


 

Porto Xarope: a carta que Caio Fernando não conseguia encerrar

Sigo publicando as cartas que Caio Fernando Abreu enviou de Porto Alegre (aqui identificado como Porto Xarope) para mim nos anos 1970. Digitá-las uma a uma, cuidando para que tudo saia na íntegra como ele me enviou é um exercício não apenas de memória, mas de resgate de emoções soterradas, paisagens perdidas, dias ocultos, conversas que o vento tinha levado. Por isso este processo é lento, intenso e revelador. Vamos à carta.

 

Porto Xarope, 6. 6. 77
Nei,
eu hoje tô tão triste — não, eu tava, agora já passou um pouco, porque eu já cheguei em casa, fiz um mate e tô ouvindo o Concerto de Bra(n)denburgo de Bach (“poucos sabem que Johann Sebastian Bach…”), um giorno de cane, como costumam ser os dias nesta cidade, especialmente para quem trabalha na Folha da Manhã (tem coisa pior). Tudo começou às 8h30 da matina, tirando uma radiografia absolutamente sádica de um dente — é assim: o cara enfia ferrinhos nos canais abertos de um dente até localizar o nervo. Quando a agulha pica o nervo (e você se crispa de dor) é preciso que o próprio radiografado fique segurando uma chapinha contra o dente até radiografar. Brrrrr. Tudo bem: no mínimo duas encarnações de karma a menos.

Depois o jornal e tanta, mas tanta gente querendo falar comigo. Tem dias que tenho vontade de escrever nas costas da cadeira “hoje não estou para ninguém” ou “seja breve” ou “genius at Work” ou também “keep distance”. Fui agressivo e desagradável com o San Martin e com todo mundo. Tenho usado botas — fisicamente e no sentido figurado também. Por fim a Praça XV, vir em pé no ônibus, como gado, um passo à frente, outro mais — e aos pedaços chegar em casa.

Eu queria ter te escrito antes. Tinha POTES de trabalho. Me descontaram cerca de uma milha e quinhentos da quinzena, recebi só 900 e só de aluguel tinha 950. Fiquei com menos 50 até o dia 15. Queixas, queixas. A portaria da censura prévia aos livros, jornais & revistas estrangeiros. O negócio do INPS, não tem mais direito a atendimento (embora continue descontando) quem ganha mais do que a monumental quantia de três salários mínimos. O quebra-pau em belo Horizonte. E coisas que não sei, porque não li e ninguém me disse. E um cansaço, e uma sensação de estar escorregando (não individual) prum negócio escuro.

As batalhas de todo-dia parecem inglórias. Claro que a gente insiste. Tenho comprado brigas: esta semana devo falar, quarta, no Clube de Cultura e, na sexta, em Pelotas. Quero “dizer coisas”. Não sei se posso, se devo — mas tô evitando me omitir e, na medida do possível, através das matérias que faço ou desses papos que pintam ir — que pretensão — pelo menos alertando as pessoas para o HORROR que taí em volta delas e pra necessidade — urgente, urgente — de modificar as coisas.

Ô Nei, não temos nenhum líder, nenhuma ideologia que preste, nós estamos sendo roubados, estuprados e assassinados lentamente, todos os dias. Eu ando cheio de raiva. Acho que todo mundo. E de impotência. E de vontade de agir de uma maneira mais eficiente, mais real, mais imediata. Porque NINGUÉM a não ser pessoas como nós vai fazer porra nenhuma para modificar essa merda toda. A gente não pode, não deve, não tem o direito de se omitir. Apesar das limitações pessoais, das dores individuais ou da própria pele a defender. Que talvez valha muito pouco neste momento.

Pausa. Tomo mate, ouço Bach, fumo Carlton.

Individualmente, tudo — digamos — bem. Cheguei daí com uma energia incrível. Eu tava todo amortecido aqui, eu só tinha dor e um nojo constante de tudo, de todos, um desprezo, um desgosto. Isso aí me sacudiu, a partir da ansiedade mesmo das pessoas, da crispação das situações, do desespero gritante de todo mundo. E Julio, teve Julio. Foram 12 dias de convivência intensa, 24 horas por dia.

Quando cheguei aqui me faltava um membro, uma metade de cérebro. Doeu muito. Tomei meio vidro de Vegostesil (é ótimo) e dormi 16 horas. Depois fui aterrissando aos poucos, e perdendo energia, e voltando aquele desgosto, aquela náusea, e contração no canto da boca. Mas tô resistindo, che. E tento me querer bem apenas por isso — por insistir e resistir. Nem sempre consigo.

Sábado faz uma semana que me mudei. Desde que tinha proclamado minha independência ou me auto-parido, em novembro, tava morando num apartamento em pleno centro (Jerônimo Coelho) onde a paisagem
onde a paisagem
(onde a paisagem)
onde há pais agem

Passou um tempo. Agora é quase meia noite. Eu jantei, fumei, bebi vinho (pouco), conversei com Gui e Graça Medeiros, depois chegou Sandra — e tantas coisas se passam, na real-de-fora e na da-mente-de-dentro-tão-real-quanto. Ô Nei, ás vezes eu fico tão confuso. Agora tô meio chapado e acho que antes estava tentando dar umas coordenadas objetivas da minha vida, mas agora eu fico me perguntando se têm importância. Suponhamos que sim.

Aí continuo a te contar. Retome a página anterior, na parte (…Coelho) onde a paisagem — bem a paisagem lãs era um paredão de concreto. Agora estou numa casinha, em Petrópolis, com terra e pátio. Tento me adaptar. De qualquer forma, anyway, me adaptaria. Mas teve coisas/tem coisas boas.

Eu não sei. Mas passa pela cabeça que isso não interessa, e me dá vontade de reler tudo o que te escrevi antes para tentar pegar algum sentido. Mas é tão partido. Ô Nei, eu tenho ficado tão confuso. Tem uma divisão aqui — uma querendo fugir a todo vapor a qualquer compra de qualquer barra e uma outra onipotente, querendo ficar no controle de absolutamente todas as emoções, sensacionais, situações.

Tenho planos. Acho um pouco temerário? utópico? fantástico? escapista? ainda ter planos a esta altura do campeonato, mas — que se á de fazer? — tenho. Tem uma coisa contra a cidade, contra a moral local, estadual, contra a burrice, a estreiteza e a mediocridade crescendo. Há uma possibilidade de conseguir um registro profissional no Sindicato. Ainda não foi possível ir lá (dentista todas as manhãs), mas eu gostaria de cair daqui depois de julho. Acho que esta casa para onde vim e todas as barras que possivelmente pintarem nela — boas ou/e más — devem ser transadas. Mas eu quero ir. Ô Nei, eu sinto um sufoco terrível.

Me escapam queixas, chicotinhos autopunitivos.

Foi bom e quente ver você. Depois, na tua casa, eu fiquei achando que a vida de vocês tá bastante dura. Que era uma vida muito nua. A partir das paredes da casa, dos poucos móveis — de tudo o que há (ou que não há) de objetos dentro dela. E que isso me dava uma outra face tua. Como te ver no jornal também me dava. E me ocorre que — porra, que troço mais literário — que as pessoas são um pouco quebra-cabeças que você vai juntando pedaço por pedaço (às vezes misturando dois ou mais jogos diversos e fazendo confusões medonhas, ou tentando freneticamente encaixar peças que absolutamente não cabem nos espaços, ou — tanta coisa). Me confundo nessas.

Enquanto te escrevo, me passa uma idéia ubaldiana na cabeça: até que ponto é inviolável tudo isso que digo aqui? (*) Outro dia — há uma semana — recebi uma carta de Madri que foi colocada no correio dia 12 de dezembro de 1976!

Mas não importa muito. Acho que já te disse que ando meio agressivo — tenho pensado que não existe nada absolutamente inconfessável.

Quando eu voltava pra casa, hoje, ao descer do ônibus, quando ia cruzar na frente de uma garagem — de dentro da garagem saiu uma moto em alta velocidade, com um garoto em cima, passou zunindo na minha cara e espatifou-se contra o poste da calçada oposta. Eu não parei pra olhar.

É meia-noite, a minha cuca não tá rendendo mais nada, tô dispersando e confundindo. Ô, Nei, eu queria te dar um grande abraço — tem um jeito disso não soar forçado? — aquele dia em que você entrou na sala Vladimir Herzog me deu um ufa! interno. Eu acho que vou cair enseguida nessa briga aí, pra dar um jeito de enseguida cair pra outra fora daqui. Brigas, brigas. Eu quero te mandar um poema aqui do fim, tem a obra completa de Mario de Andrade aqui na minha frente. Vemos ver o que ele sugere: (abriu nos poemas de amiga, já está viciado)

VI
Nós íamos calados pela rua
e o calor dos rosais nos salientava tanto
que um desejo de exemplo me inspirava, e você me aceitou por entre os santos.

Erguer do chão um toco de cigarro,
fumá-lo sem saber por que boca passou,
a terra me eriçava a língua e uma saliva seca
poisando nos meus lábios molhados renasceu.

Todos os boitatás queimavam minha boca
mas quando recomecei a olhar, oh minha doce amiga,
os operários passavam-se todos para o meu lado,
todos com flores roubadas na abertura da camisa…

O Sol no poente, de novo auroral e nativo,
fazia em caminho contrário um dia novo,
e as noites ficaram luminosamente diurnas,
e os dias massacrados se esconderam no covão duma noite sem fim

Dá um beijo na Ida, outra nos petizes (petizes é bom, não é?). Dá um abraço no Moacir Amâncio e anota lá a direção, che: Rua Chile, 661, 90000 Petrópolis, Porto Alegre (o CEP deveria vir após Petrópolis, e não antes — a minha objetividade às vezes também marca).

Agora abri de novo o Mario de Andrade e peguei ele “sonetizando” lindo. Che, veja estes, a La Augusto dos Anjos (que tenho lido muito):

“Vou fazer do meu fim minha esperança,
Oh sono, vem!…Que eu quero amar a morte
com o mesmo engano com que amei a vida”.

Tô espichando para terminar. Julio (Santa Hoerst) tem me escrito muito. Tem pintado baixezas & vilezas na história do livro do Pasquim absolutamente vergonhosas. Um pouco por isso, também, a minha cuca está um pouco descacetada. Me dá uma puta decepção e uma certeza de novo que a política-dos-bastidores-literários é, realmente, de vomitar. Blllleeeeaaaarrrrggghhhh! (não é assim vômito de HQ?). A minha cuca tá cheia de idéias pra escrever, mas eu não tenho ousado. Li a entrevista do Ferreira Gullar no Pasquim (leia o poema dele chamado Alegria no Anima nº 2 — achei ele aqui — e ele diz que agora só escreve quando é pressionado por alguma coisa interna muito forte. Comigo tem sido assim, não sei se é uma desculpa para a minha falta de método. Esse poema do Gullar aí me incendiou por uns três dias, é uma barra de lucidez meio alucinante, veja:

O sofrimento não tem
nenhum valor.
Não acende um halo
em volta de tua cabeça, não
ilumina trecho algum
de tua carne escura
nem mesmo o que iluminaria a lembrança
ou a ilusão
de uma alegria)
Sofre tu, sofre
um cão ferido, um inseto
que o neocid envenena.
Será maior a tua dor
que a daquele gato que viste
a espinha quebrada a pau
arrastando-se a berrar pela sarjeta
sem ao menos poder morrer?
A justiça é moral, a injustiça não.
A dor te iguala a ratos e baratas
que também de dentro dos esgotos
espiam o sol
e no seu corpo nojento
de entre fezes
querem estar contentes.

Esse é A Alegria. (definitivamente não estou conseguindo encerrar esta carta). Sábado foi o aniversário do Dudu SM (Dudu SM é um bom nome prum personagem. Não?). A gente fez um jantar aqui e tentou fazer com que com que — quem sabe? — as coisas ficassem um pouco legais, pra todo mundo. Foi meio crispado, meio o final desse poema. Acho que é assim quase sempre. Ou sempre, não sei. Magra Jane vai sexta embora para o Rio. Eu acho ótimo. A cidade, ô Nei, a cidade. O jornal, ô Nei, o jornal.

Mas o inverno, tem frio chegando e aqui em Petrópolis um céu incrível. Que eu quase nem olho, mas quando olho é bom. Vi um filme absolutamente lindo: A História de Adele H., de Truffaut, um amor alucinado, romantismo louco, uma paixão levada ao limite da loucura. Dá uma grandeza pros sentimentos humanos.
Sei lá.

Um beijo. Não escreve se tu não puder ou não tiver tempo. Tudo bem.
Até
Caio

Carta de uma data adivinhada

Da solidão à epifania, esta carta que Caio escreveu para mim em data incerta, mas determinada (vejam por que logo no início) percorre as dificuldades que enfrentávamos na época, como desemprego, projetos frustrados, amores que se esvaziam, relacionamentos que acabam, dor de cabeça que não passa. Começa mostrando como se fazia nos anos 1970: ia-se pessoalmente à redação levar o texto para ser publicado. Não tinha essa moleza de e-mail. E não era um lugar qualquer, mas na mais profunda Marginal do Tietê, na redação da “Veja”. Ia-se a pé, ou seja, de ônibus. Assim vivíamos naquele tempo heroico. Caio mostra com todas as letras o que se passava na época. Destaque para a história ótima com Mario Quintana.

 

Porto, acho que 23. 11. 77
Nei,
tanto silêncio meu que, eu sei, pode ter soado a desamor. Não foi não, só um acúmulo de coisas internas e externas, lançamento de livro, insegurança, medos, bodes e bodes que não vale a pena enumerar. Mas hoje pensei forte em você porque fui na sucursal da Veja levar — depois de muita marcação — uma resenha que o Humberto Werneck tinha pedido sobre “A Vaca e o Hipogrifo”, do Mario Quintana – e que eu abri citando aqueles versos seus, o dinossauro, a borboleta, é incrível como ele dinossaureia e borboleteia nos textos. Depois levei na Folha a minha página de quinta, estou só com duas páginas, agora uma às segundas, outras às quintas, sobre o que eu quiser, depois fui no psiquiatra e saí tão desantenado (demônios novos na roda…) que não suportei sequer a idéia de tomar um ônibus na Praça XV e voltar pra casa.Daí fui ver um filme qualquer, meu deus, uma pornochanchada grossíssima, “Gen­te Fina é Outra Coisa”, do Calmon, que já fez coisa boa, e saí mais desantenado ainda e na rua tava uma puta agitação com a história de terremoto no interior. Só li as manchetes, meio apavorado, apocalíptico demais, acabei enfrentando a Praça XV, a casa vazia, eu e Tigra, ,cozinhei, lavei pratos e panelas, fiz um chá de cidró-hortelã-funcho colhidos no quintal, que to tomando agora, dez e meia da noite e uma pontada do lado esquerdo da cabeça, que não me larga faz dias.

E eu tava no meio da comida quando me dei conta que tinha começado a chorar e a repetir meio dementemente “tudo-faz-tanto-tempo-tudo-faz-tanto-tempo”, talvez em parte um efeito colateral da matéria enorme sobre o Tropicalismo que li ontem em parte uma sensação presente, cada vez mais, e mais constante, de qualquer coisa como estar-ficando-velho, ou já ter atrás de mim uma história dessas com agá mesmo. E uma solidão muito grande. E uma sede. E uma vontade de ir embora, obsessiva, esgotante. E uma falta de coragem. E um desgosto com a cidade semi-destruída, com as pessoas esvaziadas e semi-destruídas também (e eu nem sequer me excluo disso).

Me olho no espelho e vejo uma cara endurecendo dia a dia, uma falta de espanto nos olhos. Não faço nada. Um dia engendra o outro, sem alegria, desde que voltei. E quando andei por aí parecia tudo tão novo, me veio outra vez uma curiosidade pelo mundo, um carinho pelas pessoas, uma vontade de continuar vivo, de lutar, de seguir. As águas estagnadas de escorpião deste porto parecem fazer dueto com o zero grau do meu escorpião ascendente. Meu deus (há poucos dias fiz uma grande descoberta: deus está na clínica), quanta queixa sem ponto de exclamação. Por isso também tava evitando escrever, porque sabia que a torneira ia abrir e jorrar água barrenta.

Me conta de você, Ida, de Daniel e Ju Jaegger, das batalhas pela nova casa (espero que ainda esteja aí na antiga, senão essa carta vai se perder). Vocês foram tão bonitos comigo quando estive aí, não agradeci porque sou sem jeito pressas coisas, mas tinha um agradecimento implícito que acho que foi percebido. Olha, se eu continuar escrevendo, vou continuar me queixando, então vou te mandar este poema do César Vallejo, que eu gosto muito. Lá vai:

ESPERGESIA

Yo nací un día
que Dios estuvo enfermo.

Todos saben que vivo,
que soy malo; y no saben
del diciembre de ese enero.
Pues yo nací un día
que Dios estuvo enfermo.

Hay un vacío
en mi aire metafísico
que nadie ha de palpar:
el claustro de un silencio
que habló a flor de fuego.

Yo nací un día
que Dios estuvo enfermo.

Hermano, escucha, escucha…
Bueno. Y que no me vaya
sin llevar diciembres,
sin dejar eneros.
Pues yo nací un día
que Dios estuvo enfermo.

Todos saben que vivo,
que mastico… y no saben
por qué en mi verso chirrían,
oscuro sinsabor de ferétro,
luyidos vientos
desenroscados de la Esfinge
preguntona del Desierto.

Todos saben… Y no saben
que la Luz es tísica,
y la Sombra gorda…
Y no saben que el misterio sintetiza…
que él es la joroba
musical y triste que a distancia denuncia
el paso meridiano de las lindes a las Lindes.

Yo nací un día
que Dios estuvo enfermo,
grave.

Uma força grande pro vestibular da Ida. Agradeça por mim ao Moacir Amâncio a publicação da entrevista, e diga que to esperando a Estação dos Confundidos. Falar nisso, pedi ao Mangarielo que te levasse um exemplar das Pedras. Levou? Se não levou, dede ele pra mim.

A pontada na cabeça continua. Não consigo parar de escrever. Ocê me agüenta mais algumas laudas? Podia ser assim:

Yo naci um dia
que Dios estuve loco,
despelotado

Produzindo (é a palavra) as páginas pra Folha, veio um lado bom — não-ir à redação — e um lado mau, me esgotar pra parir textos imbecis praquele jornal imbecil. Veja só: fui escrever mau e escrevi meu : lapso freudiano, típico. Sandra e Gui chegam, semi-demolidos, foram assistir “Face to Face”…

Às vezes tenho vontade de dormir até 1º de janeiro de 1978. Andei tão mas tão paranóico que parei de fumar e de beber. Fiquei inteiramente careta. A última vez que fumei, me deu um nervoso tal que mudei de lugar todos os moveis do quarto e fiz uma puta faxina: eram cinco da matina quando terminei. O que eu diria dessa coisa que não dá mais pé? Nada: em boca fechada não entra mosca. El Zwetsch mandou o Vício da Palavra, que distribuí por aqui, preciso escrever a ele, pero no hay saco, fiquei coma puta rejeição do livro- guardei um exemplar pra mim sem conseguir ler nada.

Aristides Klafke passou por aqui, ficou uns dias aqui em casa, foi bom, uma cuca nova! acho que sou meio vampiro de cucas, depois se mandou pra Montevidéu pra ver dois amigos. Sábado chegou um cartão dele: os dois amigos estão presos há três meses, sem perspectiva de serem soltos…Soube pelo Julio que ocê teve no Rio, pro lançamento do Torpalium. Ele vezenquando escreve cartas dementíssimas, ótimas, e eu fico pensando que podia ter sido diferente, se ele não fosse assim como é e se eu não fosse assim como sou, estás a ver que já parto de uma premissa impossível. Mas.

Pifa voltou de Vitória pra pegar no meu pé. Vai ficar aqui até o fim deste mês. Transei um pouco, depois destransei, cansei, bodiei. Detesto a sensação de “ter compromisso” com alguém. Mas a solidão rói, dói, mói, como diz a Lara de lemos. Estou tentando me organizar para ir embora: decidi (teoricamente, até agora) dar uma injeção de adrenalina na minha Cader­neta de Poupança (por en­quanto tenho 50 pilas!), mas sofro ataques cotidianos fortíssimos de bundamolismo. Magliani voltou triste. Bem, Magliani é triste, mas voltou mais ainda, dizendo que a barra do desemprego tá pesada . Me cansei, desisti, se há sorte? eu não sei, nunca vi. Vontade de ver um filme de vampiro. Você tem a “Vaca e o Hipogrifo?” Se não tem diz, que te mando. O Mario Quintana lá pelas tantas diz que adora filme de vampiro. Quando eu tava autografando as “Pedras” ele entrou na fila para apanhar um autógrafo. Eu abanei o rabo de puro contentamento, e disse: “O título do livro é de um poema seu”. Ele agitou as asas de borboleta, fixou em mim os olhos de dinossauro e soltou: “Eu sei. Foi só por isso que comprei”. Achei marioquintanamente ótimo.

Você tem alguma receita pra gente mudar de vida? E pra tomar decisões? E para mudar de personalidade? E para flagrar-se? E para pagar o karma em suaves prestações? E pra desorientação aguda, você tem? Se tiver, me passa que eu preciso. Se não tiver, me escreve e me dá um corte. Vontade, também, de tomar uma Brahma contigo e ouvir Carmélia Alves. Any­way, um beijo. Segura as pontas daí que eu seguro as daqui. E não se preocupe: Deus estaria conosco até o pescoço, se não estivesse na divisão Melanie Klein.

Te gosto.
Sempre. Caio


 

 

 

*Todos os textos foram retirados na íntegra no site da Revista Bula.   Confira lá também!

Imagem: pesquisa google

 

 

O DIA EM QUE VAIARAM A VITÓRIA DE CHICO BUARQUE: A MÚSICA DE RESISTÊNCIA DE VANDRÉ E O FESTIVAL INTERNACIONAL DA CANÇÃO

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O Maracanãzinho é preenchido de palmas. “Olha, sabe o que eu acho? Eu acho uma coisa só a mais: Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque de Holanda merecem o nosso respeito! – o público vai à loucura, as palmas se intensificam – A nossa função é fazer canções… a função de julgar, nesse instante, é do júri que ali está – as palmas se convertem à uma onda de vaias direcionadas ao júri – Por favor… – tentando conter as vaias e continuar – Tem mais uma coisa só: pra vocês que continuam pensando que me apoiam vaiando – começam os gritos “É marmelada! É marmelada!” – Gente! Gente, por favor! Olha, tem uma coisa só: A vida não se resume em festivais!“.

GERALDO VANDRÉ FESTIVAL 1967 CENSURA PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES CAFÉ COM POEMAS

Geraldo Vandré no Festival (Reprodução)

É assim que começa a apresentação final de Geraldo Vandré que, com apenas dois acordes, levanta o estádio com seu sucesso “Pra não dizer que não falei das flores”, famoso pelo apelido “Caminhando e Cantando”, ou a “marsellesa brasileira”. Neste momento, Vandré entrou para a História da Música Brasileira.

O momento em questão é o famoso Festival Internacional da Canção de 1968, realizado no Rio de Janeiro, como de costume, premiando as melhores canções da Música Popular Brasileira. Geraldo Vandré e Chico Buarque já eram conhecidos nesses eventos. Vandré se tornou famoso por um desses festivais, em 1966, quando enviou sua música Disparada, na voz de Jair Rodrigues. Chico era a personalidade do momento.

Em 1968, foram para a final duas músicas desses autores: Chico Buarque, associado com Tom Jobim, considerado o melhor músico na época, traz Sabiá, música  apresentada por Cynara e Cybele e que faz alusão à Canção do Exílio de Gonçalves Dias e fala da terra-arrasada e do exílio na ditadura, mas de maneira branda; enquanto isso, Vandré traz sua poesia musicada “Caminhando e Cantando“, que escreveu em um encontro com Hermeto Pascoal, numa clara convocação do povo contra as autoridades que querem mandar e, por isso, contra a ditadura.

Buarque, Jobim, Cynara e Cybele

Buarque, Jobim, Cynara e Cybele (reprodução)

Durante o Festival, ficou claro que a música de Vandré era a favorita. As universidades, as fábricas e as ruas cantavam sua letra e a declaravam hino de sua resistência, marcada pela resistência e pela poesia. Vandré, cada vez mais, era visto como principal artista subversivo pelo regime.

Uma das estrofes de sua música foi lida como afronta direta ao governo (e os grupos de poder que o formava): “Há soldados armados, amados ou não. Quase todos perdidos, de armas na mão. Nos quartéis lhes ensinam a antiga lição: de morrer pela pátria e viver sem razão”. A música de Vandré começa a ser associada à luta pela resistência pela maior parte da sociedade, por mais que Vandré diga que a interpretação dela, por mais que não esteja errada, não é tão simples assim.

No dia 29 de setembro daquele ano, foi consagrada a final do FIC. Porém, antes da conclusão final do júri, dois militares ligados ao policiamento político intervêm na discussão e coloca de maneira clara que Geraldo Vandré não poderia vencer o Festival com aquela música subversiva e claramente política. O clima na época era tenso, às vésperas do decreto que impõe o AI5, e o júri se submeteu à vontade dos interventores.

Na hora de declarar o vencedor da final, o clima era de animação e euforia. Quando o júri declara vencedora a Sabiá de Buarque e Jobim, o estádio volta a se encher de gritos de indignação e confusão. Imediatamente, o público começa a vaiar o júri, Chico, Tom e os policias presentes no recinto. Vandré, já entendido da situação, caminha até o palco, senta no banco, ajeita o microfone e bota o violão no colo. Ele não via sentido nas vaias, declarava que sua música não falava de política, mas sim de amor. Afinal, política se fazia com as mãos, não com a voz.

Geraldo hoje, após renegar seu legado como "Vandré" e Joan Baez (Reprodução) café com poemas

Geraldo hoje, após renegar seu legado como “Vandré” e Joan Baez (Reprodução)

Após acalmar o público com o discurso que marcou a história dos festivais de música, Vandré começa a cantarolar a introdução de sua mais famosa música. As vaias desorganizadas logo se tornam um coro que acompanha a melódica voz do paraibano, que começava “Caminhando e Cantando e seguindo a canção….

Meses depois, o AI5 é decretado. Vandré, contra a própria vontade, sai do Brasil pelo Uruguai e só voltará em 1973, completamente abalado pelo afastamento do país ao qual era tão apegado. Sua música, mais do que o próprio homem, ainda é lembrada pelas pessoas nas ruas. Sua melodia, simples e arquitetada, ainda faz parte do imaginário brasileiro quando se trata de canções de resistência e MPB. E, até hoje, seu ensinamento se faz presente: a vida não se resume em festivais.

Ouça o áudio desse dia marcante:

Fonte: AVENTURAS NA HISTÓRIA 

 

O bom e velho “FODA-SE” para os padrões da sociedade (Little Miss Sunshine)

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Deleuze falava que o verdadeiro charme das pessoas consiste nos seus traços de loucura. Ou seja, somente quando há uma ruptura com a estrutura é que o indivíduo consegue ser verdadeiramente atraente, de tal maneira que não há interação e sentimento, para ele, onde não há a percepção dos traços de loucura presente nas pessoas.

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Corroborando com a visão do filósofo francês, Jonathan Dayton e Valerie Faris nos apresentam o filme “Pequena Miss Sunshine” (Little Miss Sunshine). O filme narra a história de uma família pra lá de excêntrica, marcada pelo dilema entre o sucesso e o fracasso. Nesse universo familiar somos apresentados a Olive (Abigail Breslin), uma garotinha que sonha em ganhar um concurso de beleza. Para tanto, ela treina com seu avô (Alan Arkin), um velho viciado em heroína. A fim de realizar o sonho da garota, a família se desloca em uma Kombi velha (mas, muito maneira) para chegar ao tal concurso, embarcando em um dos melhores Road Movies do cinema.

A excêntrica família passa por uma série de problemas, que vão do cômico ao dramático com perfeição, criando situações ao mesmo tempo nonsense e verossímeis. O grande problema dos personagens é que eles vivem esmagados pela pressão de serem vencedores, buscando cada um ao seu modo a fuga para os fracassos das suas vidas. Até que chegamos à cena final, em que Olive, a criança, promove a libertação dos personagens, mostrando-lhes que independente do que esperam dela no concurso de beleza, ela jamais vai conseguir ser bela sendo alguém que ela não é. Isto é, escondendo os seus traços de loucura. A sua coragem promove a catarse que liberta todos dos padrões da sociedade e da ditadura da felicidade que nos obriga a vencer sempre.

A vida é cheia de nuances e complexidades, de coisas ocultas que jamais conseguiremos descobrir, tampouco, dominar. E nós, como protagonistas dessa vida, temos que vivenciá-la com dignidade, aprendendo a lidar com as nossas vicissitudes e, acima de tudo, sendo aquilo que nós somos essencialmente, sem estarmos preocupados o tempo inteiro em atender os padrões impostos por uma sociedade hipócrita, que foi erigida sob o pilar da liberdade, mas que desrespeita esta a todo tempo.

Deleuze é perfeito ao considerar os traços de loucura como a maior beleza que um ser humano possui, já que são esses traços que nos possibilitam a criatividade, a reinvenção, o renascimento. É ela que determina a nossa excentricidade, os nossos maneirismos e, por conseguinte, as nossas idiossincrasias, aquilo que somente nós possuímos e que não encontramos em mais ninguém. Aquilo que nos torna seres singulares e que é guardado na memória daqueles que nos amam.

São os traços de loucura de Olive que a tornam uma personagem tão cativante e apaixonante. É a sua apresentação maluca que deixa ao mesmo tempo sua família e nós vibrantes, que nos faz querer dançar e ser inadequados, sem medo do ridículo e sem medo dos olhares que retiram o brilho da felicidade sincera.

Olive nos ensina a sermos pássaros que voam livremente, fora das gaiolas que a vida adulta e a pressão da sociedade nos colocam, transformando-nos em indivíduos pragmáticos e chatos, sem qualquer tipo de charme, mergulhados no reino da mesmice. Como o avô maluco beleza ensina: “Perdedores são pessoas que têm tanto medo de não ganhar, que nem sequer tentam” e para tentar, antes é preciso ser honesto consigo mesmo, dando o melhor de si, mesmo que as pessoas esperem outras coisas. Ser vencedor é ter coragem para perder com dignidade sendo quem se é, sem máscaras e adequação, com loucura e beleza, dando o bom e velho “FODA-SE” para os padrões da sociedade.

(Foto:Century Fox France/Divulgação)

Não somos iguais para estarmos todos em uma mesma forma, bem como, a vida não é uma competição que visa distribuir medalhas para quem chega em primeiro lugar. A verdadeira medalha se ganha quando cruzamos a linha de chegada e ao olhar para trás conseguimos nos enxergar em cada pegada que deixamos, sendo o que quisermos ser em cada situação, fazendo o que amamos independente do que os outros queiram ou achem.

Ninguém precisa ser admirado por todos, nem bem aceito, tampouco, deixar de fazer o que gosta para pertencer ao “grupo”. A verdadeira felicidade consiste em estar livre para voar em qualquer céu e fazer a corrida do jeito que melhor lhe apraz. Olive ensina isso para a sua família, que percebe que os fracassos que possuem também fazem parte da pessoa que são e daquilo que estão se tornando. Ensina, sobretudo, que isso não os torna perdedores, porque o que torna alguém perdedor é desistir de tentar e, principalmente, esquecer o que se é, os seus traços de loucura, para ser vencedor de uma plateia falsa e sem vida.

A vida passa muito depressa para ser um vencedor que voa apenas em uma gaiola. Felicidade, como Olive e Deleuze nos ensinam é voar livremente, enfrentando as dificuldades e as quedas que inevitavelmente sofremos, porque não adianta ser vitorioso de uma vida amarga e sem loucura, já que, lembrando Bauman: “Loucos são apenas os significados não compartilhados. A loucura não é loucura quando compartilhada”, e o compartilhamento só é possível para quem está livre, para que como Olive, consiga dançar na cara dos padrões mecânicos e falsos de uma sociedade chata e hipócrita.

Por: Erick Morais 

Fonte: Pensar Contemporâneo

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Coringa é ‘terrivelmente’ realista na atual sociedade surtada

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“Precisamos resolver nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta”, escreveu décadas atrás o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984).

Com isso, a loucura do personagem Coringa no filme homônimo, dirigido por Todd Phillips, parece assustadoramente realista, ainda que represente um grau extremo de psicopatia.

O longa protagonizado por Joaquin Phoenix tem sido celebrado por muitos e tratado com cautela por tantos outros.

Seria a obra embalada por múltiplas violências um gatilho capaz de estimular insanos a produzir massacres de inocentes?

Recentes atentados realizados por lobos solitários – como os de El Paso e Dayton, nos Estados Unidos, em agosto – fazem a nova versão do Coringa ser ainda mais humana e também mais perigosa.

Na imprensa norte-americana, o filme-sensação, ganhador do principal prêmio do Festival de Veneza, tem sido associado ao termo ‘terrorismo branco’, em referência ao perfil mais comum de assassinos motivados por ódio: o caucasiano introspectivo de classe média que se sente incomodado ou ameaçado por minorias.

O riso descontrolado e aterrorizante é a marca do desiludido Arthur Fleck
Foto: Divulgação

O insociável e carente Coringa seria, ainda, um ícone para os ‘incels’, abreviação de involuntary celibates (celibatários involuntários), ou seja, homens majoritariamente heterossexuais incapazes de estabelecer de maneira espontânea um relacionamento romântico ou sexual. Esse grupo desperta a atenção de autoridades e estudiosos do comportamento colérico.

No filme, o homem atrás da máscara de palhaço – o comediante desprezado e frustrado Arthur Fleck – é produto e, ao mesmo tempo, sintoma de uma sociedade doente. Mais grave: ele quer ser o expurgador dessa anomalia.

Para isso, atua como uma espécie de justiceiro. É vítima, réu, juiz e executor. Uma confusão mental e comportamental alimentada pela omissão de uma sociedade igualmente doente.

A maioria das pessoas prefere fingir não enxergar um indivíduo com transtorno mental a fim de não se reconhecer nele ou então evitar se sentir na obrigação moral de ajudá-lo ou ainda para se desviar da culpa pela negligência.

A maior parte das pessoas exibe um sorriso falso para disfarçar as dores emocionais
Foto: Divulgação

Diante da insuficiente política de Estado em relação à saúde mental da população, o drama cotado a indicações ao Oscar presta um serviço relevante ao alertar a respeito dos radicalismos aos quais estamos expostos.

Cada pessoa deve, assim como sugeriu Foucault, enfrentar a si mesmo. Assim haverá menor chance de se transformar em um ser fora de controle.

Coringa expõe as possíveis consequências calamitosas do bullying, do desamor e da sensação íntima de fracasso.

Trata-se de uma alegoria com tintas fortes do ‘loser’ americano: o cidadão visto como ‘perdedor’ por não ter conquistado o sucesso financeiro, a felicidade afetiva e o respeito na comunidade.

Independentemente de origem e cultura, há milhares de Coringas à nossa volta – sem maquiagem, porém igualmente prontos a explodir em fúria.

Diante desse risco iminente, a única risada possível a todos nós é a de nervoso.

Texto escrito por Jeff Benício do portal Terra

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