De pior aluno da escola e com muito problemas familiares, Mateus Nunes Marinho, de 7 anos, viu seus dias mudarem por meio de poemas. Ele começou o interesse pela poesia, após assistir uma novela em que o personagem era poeta. A partir daí, inspirado pelo poema “Recomece” de Bráulio Bessa, o pequeno começou a versar com autoria própria na comunidade Boa Nova, no município de Óbidos, no oeste do Pará.
Sem pai, com a mãe com problemas mentais e avó cega, Mateus estava se tornando uma criança agressiva na escola e até mesmo dentro de casa. No colégio, os responsáveis sempre eram chamados para serem advertidos pelas atitudes do menino com os colegas e até mesmo com a professora,
O menino destacou que vivia momentos de revolta pela dificuldade que passava com a família. E que ouviu de uma vizinha que cuidava dele que ela chamaria até mesmo o Conselho Tutelar e procuraria um atendimento médico para que ele parrasse com essas agressões.
“Eu era o pior aluno da sala, agredia meus coleguinhas, não respeitava minha professora. Ela era cobrada pelos pais de alunos para que eu não sentasse ao lado dos filhos deles. A professora me cuidava muito bem, me dando toda a atenção, mas mesmo assim muitas lágrimas rolavam em seu rosto”, contou Mateus.
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A vizinha de Mateus, Lúcia Nunes de Siqueira resolveu olhar com um cuidado mais atento ao menino e em conversa com ela, o menino despertou entusiasmo e disse que queria ser poeta, igual aquele ator da novela.
“Naquele momento, nos abraçamos, e chorando ele disse que era para Deus dar o caminho, porque não tinha noção como versar um poema. Eu liguei meu celular e ele pesquisou um poema do poeta Bráulio Bessa que tem como título ‘Recomece’. Ele disse que achou lindo e que preencheu o vazio do coração dele. Ele me pediu para deixar meu celular para que ele pudesse ouvir mas vezes”, contou Lúcia.
“Quero fazer as pessoas sorrirem e chorarem de emoção, e não mais de dor”, disse Mateus.
Mateus ressaltou os cuidados da “Tia Lúcia”, pois mesmo com muitos afazeres sempre reservou um tempinho para ele. Ela conseguiu fazer ele assimilar quatro estrofes.
“Logo me tornei fã do Bráulio e como quase que todos naquela comunidade profetizavam mal de mim, até porque meu pai é alcoólatra, usuário de drogas e ninguém acreditava na minha capacidade. Versamos o primeiro poema, que tem como título o ‘Menino lá da roça'”, destacou.
Atualmente, o pequeno poeta tem sentimentos pelas pessoas e muito amor pelos avós. A paz está completa na família. Além de ser admirado na escola, todos adoram ouvir os poemas. Ele deseja ajudar a família humilde e quer ser como o poeta Bráulio Bessa.
“Quero estar um dia no programa da Fátima, transformando a vida das pessoas e um dia poder escrever sobre tudo. Espero contar com apoio das pessoas, pois venho de uma família muito humilde. Hoje, posso sentir que os poemas transformaram a minha vida, mesmo sendo muito tímido tenho muita ansiedade em me apresentar como aquele ator, lançar um livro e transformar vidas”, finalizou Mateus, o pequeno poeta.
Confira os poemas:
O menino lá da roça
Vida solitária
Levo a vida de um menino
Entre flores e espinhos
Entre chuva e sol
As vezes me sinto só
Deus és minha inspiração
Seguro em suas mãos
Olho pra este mundão
Com tanta corrupção
Parece não ter saída
Olho pra minha vida
Uma família sofrida
Mas com Deus no coração
Tenho lembrança dos
Momentos difíceis da
Minha vida
O coração do menino
Um contador de piada
Com a língua toda enrolada
Alegrando a molecada
O palhaço da escola
Que dança pula e rebola
A corrida no saco
A hora da lição
Me relembra o coração
Aquela mochila verde
Pendurada na parede
Aquela balador na mão
Pra balar aquele avario
O chamado do vovó
Com um bastão na mão
Me relembra o coração
São milhões de pensamentos
Que passa pela cabeça
Talvez seja o meu destino
Nascido para escrever Aquilo que faz bater
O coração do menino.
Á Realidade
No radinho lá de casa
Curioso eu cheguei perto
Pra mode escutar o certo
Minha vó que sempre foi a melhor
Com um papel de vilão
Sabe regrar o sim
E nunca poupar o não
Ela me falou da paz
Já que a paz é um sentimento
Ferida e chorando muito
Naquele escato momento
Ela me falou da violência
Que o mundo vem sofrendo
Da conta que o povo paga
Sem se quer esta devendo
Olhando para o meu lado
Avistei outras crianças
Sorrindo nos abraçamos sem pensar em desistir
Somos nos a esperança
Deste sofrido país.
Confiar
Se você se amar
Se você confiar
O mundo pode mudar
Você pescador deixe da covardia
Zele pela natureza
E pelo pão de cada dia
Vivendo uma vida plena
Fazendo valer apenas
Cada passo que for dado
Meu perfil
Ao rimar este poema
O alfabeto vou usar
Pra contar minha história
Do povo deste lugar.
Mateus é o meu nome
Escrito com a letra M
Com sete anos de idade
Já tenho a capacidade
De escrever o meu poema
Sou filho do interior
Com muito orgulho de ser
Não tenho pai registrado
Com uma mãe do meu lado
Uma vó que me irradia
Não tem a capacidade
De enxergar a luz do dia.
É normal que todo mundo
Tenha uma vocação
Vou me tornar um poeta
Pra alegrar seu coração
Todo dia eu peço a Deus
Saúde pra estudar
Pra ser alguém na vida
E minha família ajudar
Na vida: Ninguém
É feliz sozinho
Preciso do seu carinho
Não quero mal a ninguém
Só quero deixar saudade
No coração de Alguém.
O agricultor
O meu Pará tem riqueza
Tem terra pra trabalhar
O agricultor no campo
Tentando seu pão ganhar
Com tanto suor no rosto
Com a esperança no Amanhã
A praga vem e devora
Aquele atravessador
Que não tem coração
Leva por um trocado
O que sobrou da plantação
A vida é dura demais
Mas vale apenas viver
Com o próprio suor do rosto
De que por matar e roubar
Família
Nem as preciosas pedras
Com seus mais altos valores
Não compara uma família
Que é regada por amor
Não importa o tamanho
Nem a nacionalidade
E lá que existe o perdão
E nasce a felicidade
É o jardim mais florido
Daqueles que sabem amar
É nela que os que caíram
Podem se levantar
É a escola da vida
Que insiste a ensinar
Que ela é a base de tudo
Basta saber amar…
Trabalho escravo nunca mais
Os novos tios tem riqueza
Tem peixe para pescar
A maior fonte de água doce
Para nos se saciar
São milhões de toneladas
De toda espécie pescada
A maior fonte de renda
Sendo desvalorizada
O pescador consciente
Não aceita exploração
Não se tornando escravo
Da sofrida profissão
Nesse mundo todo mundo
Poderia se respeitar
E assim nossos direitos
Ninguém vinha violar
Seja rico, seja pobre
Ou a cor que você tem
Não importa profissão
O mas importante é
Ter o amor no coração
É hora de se unir
Para se fortalecer
Para que o trabalho escravo
Nunca mais acontecer
Agradecimento
Não preciso ser famoso
Pra ser ídolo de alguém
Obrigado Vanda Bentes
E o Josemar Também
Herói sou eu e você
E essa gente do bem
Obrigado chico Alfaia
E a Semed Também
Reprodução: G1