Tem tempo que larguei minha rocinha
e vim pará neste lugá
aqui trabaio noite e dia
num paro nem pra discansá
deixei minino, muié, gado, roçado
priquito e tudo quanto há
a seca foi bitela
a prantação num chegô nem a brotá
vô picá é a mula daqui
num tem como ficá mair não
a sodade já tá ardendo o peito
virô até judiação
vô é pros braços da minha véia
vô dengá os meus fiím
vô vortá pra minha terra
sê filiz do meu jeitim
vô pulá na inchorrada
quando a chuva aparicê
vô chamá de macambira
quem dizê que eu tô perê
vô butá a minha roça
tombá, prantá e esperá crescê
como fiz nos zotros zanos
sem ninguém pra esmurecê
a minha terra é trabiceiro
onde eu faço o meu labô
bom dimais mexê cum terra
vida lá é bela como uma frô
a tarde o sóu se ispriguiça
e a noite toma o seu lugá
vagalume é bicho sorto
passa logo a lumiá
quando é noite de lua cheia
aí que a coisa fica boa
vô pro terreiro cus meninos e a muié
ouvi modinha e ficá à toa…
é muito bom o meu sertão
é por isso que vô me picá
aqui num tem sossego não
só o peso do patuá
cidade grande tem imprego
gente fina e agitação
mas prum matuto, feito eu
mió mermo é seu pedacim de chão.
Leandro Flores
03/09/2015
Créditos da foto: Autor desconhecido
Jornalista, Sertanista, Comendador, Poeta, Editor de Livros e Revistas e Designer Gráfico. Leandro é autor dos livros “Sorriso de Pedra – A outra face de um Poeta” e “Portfólio: Traços e Conceitos”.
É membro-fundador da Academia de Letras do Sertão Cultivista, membro da CAPPAZ – Confraria Artistas e Poetas pela Paz, além de outras instituições Acadêmicas pelo país. Também é Coordenador e Idealizador do Movimento Cultivista Brasileiro e do Projeto Cartas e Depoimentos. Já fez participações em dezenas de antologias poéticas, além de ORGANIZAR e AUXILIAR outras publicações. Leia mais…